Centrado no famoso comentário de Robert Frost (1874-1963), no sentido de que a poesia seria, exatamente, aquilo que se perde na tradução, o poeta e tradutor escocês devota-se, aqui, em nos fazer ver que a versão a outros idiomas, de um poema originalmente grafado num dado idioma, implica perdas bem mais em razão de que nem sempre a representação de fatos no idioma original encontra plena equivalência nas palavras e representações do idioma destinatário.
A construção do poema de Reid combina tais ideias tanto no idioma inglês, falado pelo autor, quanto no idioma espanhol, neste caso, muito em razão de tratar-se de um renomado tradutor de poetas sul-americanos, como Borges e Neruda: a leitura dos versos, dispostos em sequência, resulta em melhor inteligibilidade se feita em separado, primeiro em inglês, sempre com letras normais (em azul), e depois em espanhol, com letras em itálico (em vermelho).
J.A.R. – H.C.
Alastair Reid
(1926-2014)
What Gets Lost / Lo Que Se Pierde
I keep translating traduzco continuamente
entre palabras words que no son
las mías
into other words which are mine de palabras
a mi palabras.
Y finalmente de quién es el texto?
Who do words belong to?
Del escritor o del traductor writer, translator
o de los idiomas or to language
itself?
Traductores, somos fantasmas que viven
entre aquel mundo y el nuestro
translators are ghosts who live
in a limbro between two worlds
pero poco a poco me ocorre
que el problema no es cuestión
de lo que se pierde en traducción
the problem is not a question
of what gets lost in translation
sino but rather lo que se pierde
what gets lost
entre la ocurrencia – sea de amor o de
agonía
between the happening of love or pain
y el hecho de que llega
a existir en palabras
and their coming into words.
Para nosotros todos, amantes,
habladores
for lovers or users of words
el problema es este this is the
difficulty –
lo que se pierde what gets lost
no es lo que se pierde en traducción
sino
is not what gets lost in translation but more
what gets lost in language itself lo que se
pierde
en el hecho, en la lengua,
en la palabra misma.
O escritor Liev Tolstói em seu gabinete
(Ilya E. Repin: pintor russo)
O Que Se Perde / O Que Se Perde
Sigo a traduzir traduzo continuamente
entre palavras palavras que não são
as minhas
em outras palavras que são minhas de palavras
a minhas palavras
E finalmente de quem é o texto?
A quem pertencem as palavras?
Ao escritor ou ao tradutor escritor tradutor
ou aos idiomas ou ao próprio
idioma?
Tradutores, somos fantasmas que vivem
entre aquele mundo e o nosso
Tradutores são fantasmas que vivem
num limbo entre dois mundos
porém pouco a pouco me ocorre
que o problema não é questão
daquilo que se perde em tradução
o problema não é uma questão
daquilo que se perde na tradução
senão mas antes o que se perde
o que se perde
entre a ocorrência – seja de amor ou de
agonia
entre a ocorrência de amor ou dor
e o fato de vir
a existir em palavras
e a sua chegada às palavras.
Para todos nós, amantes, falantes
para amantes ou usuários de palavras
o problema é este esta é a dificuldade
–
o que se perde o que se perde
não é o que se perde em tradução senão
não é o que se perde na tradução mas mais
o que se perde no próprio idioma o que se perde
no fato, no idioma,
na palavra mesma.
Referência:
REID, Alastair. What gets lost / Lo que
se perde. In: __________. Weathering: poems & translations. Athens,
GA: The University of Georgia Press, 1988. p. 93.
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