Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 24 de outubro de 2021

Giorgos Seferis - Narração

Estes versos do Nobel grego bem enfatizam o grau de alienação com o qual as sociedades contemporâneas passaram a conviver: a dor e a fraqueza humanas já não se mostram potentes para comover as pessoas, levando-as a sair um pouco de sua zona de conforto, ou mesmo distanciando-as, por um tempo mínimo que seja, de suas diversões ou afazeres, em auxílio ao próximo.

Indiferença e imperturbabilidade são palavras de ordem no quotidiano do “capitalismo selvagem”. E se as dores de terceiros são pesares por amores frustrados, as chances de obtenção de apoio são ínfimas, pois não refletem algo que se passe no domínio público, senão no da vida privada. Em suma: sentimentos à flor da pele não combinam com o ritmo de uma sociedade comandada por máquinas, haja vista que o seu propósito é tornar o homem um seu agente cativo, para que possa mover suas indústrias, até que se lhe esgotem as forças!

J.A.R. – H.C.

 

Giorgos Seferis

(1900-1971)

 

Αφήγηση

 

Αυτός ο άνθρωπος πηγαίνει κλαίγοντας

κανείς δεν ξέρει να πει γιατί

κάποτε νομίζουν πως είναι οι χαμένες αγάπες

σαν αυτές που μας βασανίζουνε τόσο

στην ακροθαλασσιά το καλοκαίρι με τα γραμμόφωνα.

 

Οι άλλοι άνθρωποι φροντίζουν τις δουλειές τους

ατέλειωτα χαρτιά παιδιά που μεγαλώνουν, γυναίκες

που γερνούνε δύσκολα

αυτός έχει δυο μάτια σαν παπαρούνες

σαν ανοιξιάτικες κομμένες παπαρούνες

και δυο βρυσούλες στις κόχες των ματιών.

 

Πηγαίνει μέσα στους δρόμους ποτέ δεν πλαγιάζει

δρασκελώντας μικρά τετράγωνα στη ράχη της γης

μηχανή μιας απέραντης οδύνης

που κατάντησε να μην έχει σημασία.

 

Άλλοι τον άκουσαν να μιλά

μοναχό καθώς περνούσε

για σπασμένους καθρέφτες πριν από χρόνια

για σπασμένες μορφές μέσα στους καθρέφτες

που δεν μπορεί να συναρμολογήσει πια κανείς.

 

Άλλοι τον άκουσαν να λέει για τον ύπνο

εικόνες φρίκης στο κατώφλι του ύπνου

πρόσωπα ανυπόφορα από τη στοργή.

Τον συνηθίσαμε είναι καλοβαλμένος και ήσυχος

μονάχα που πηγαίνει κλαίγοντας ολοένα

σαν τις ιτιές στην ακροποταμιά που βλέπεις απ’ το τρένο

ξυπνώντας άσκημα κάποια συννεφιασμένη αυγή.

 

Τον συνηθίσαμε δεν αντιπροσωπεύει τίποτε

σαν όλα τα πράγματα που έχετε συνηθίσει

και σας μιλώ γι αυτόν γιατί δε βρίσκω

τίποτε που να μην το συνηθίσατε·

προσκυνώ.

 

Lago numa manhã enevoada

(Jackie Sullivan: pintora norte-americana)

 

Narração

 

Esse homem caminha chorando;

Ninguém saberia dizer por quê.

Alguns pensam que ele chora amores perdidos

Como os que nos atormentam tanto,

No verão, junto ao mar, com os fonógrafos.

 

Outros pensam em suas tarefas cotidianas,

Papéis inacabados, filhos que crescem,

Mulheres que envelhecem com dificuldade.

Ele possui dois olhos como papoulas,

Como papoulas colhidas na primavera,

E duas pequenas fontes no canto dos olhos.

 

Ele caminha nas ruas, não se deita nunca,

Transpondo pequenos quadrados sobre o dorso da terra,

Máquina de viver um sofrimento sem limite

Que termina não tendo mais importância.

 

Outros ouviram-no falar

Sozinho, enquanto passava,

De espelhos partidos há muitos anos,

De rostos partidos no âmago dos espelhos,

Que ninguém poderá jamais restaurar.

 

Outros ouviram-no falar do sono,

De visões horríveis nas portas do sono,

De rostos insuportáveis de ternura.

Habituamo-nos a ele, ele é correto, é tranquilo

Só que caminha chorando sem parar,

Como os salgueiros à beira dos rios que percebemos do trem

Numa madrugada enevoada, quando de um despertar

     desagradável.

 

Habituamo-nos a ele – ele nada significa,

Como tudo que se torna um hábito;

E se vos falo dele é que não vejo nada

Que não se tenha tomado um hábito para vós.

Meus respeitos.


Referências:

Em Grego

ΣΕΦΈΡΗΣ, Γιώργος. Αφήγηση. Disponível neste endereço. Acesso em: 31 mai. 2021.

Em Português

SEFERIS, Giorgos. Narração. Tradução de Darcy Damasceno. In: __________. Poemas. Tradução de Darcy Damasceno. Estudo introdutivo de C. Th. Dimaras. Rio de Janeiro, RJ: Opera Mundi, 1971. p. 165-166. (Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura patrocinada pela Academia Sueca e pela Fundação Nobel; Prêmio de 1963: Giorgos Seferis, Grécia)

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