Na combinação de pensamentos e de sentimentos, segundo o poeta maranhense, o “poema pensaria emoções” e “sentiria ideias”: poemas, de fato, convertem ideias ou emoções em palavras, de onde o leitor há de haurir a poesia, num exercício de inteligibilidade ou, muitas vezes, entrando em ressonância com os seus encantos sensoriais.
Vejam-se as imagens e símbolos a que recorre Tribuzi, associando-os à própria prática de dispor os versos sobre a folha em branco: é para isso que serve a poesia – assinalemos –, para manter em aberto o “o reino das palavras”, ou até mesmo para se especular sobre a sua entidade – esse enigma a que tantos já se entregaram a deslindá-lo, mas cujo caudal, ainda agora, encontra-se bem aquém das suas linhas de circunscrição.
J.A.R. – H.C.
Bandeira Tribuzi
(1927-1977)
Arte Poética
Do pensamento e dos sentidos
flui o rio dos poemas.
O punhal da inteligência
vibra tenso no alvo.
O fio de sangue que brota
é emoção colorida e pura,
rubra chama em que se queima
o coração apunhalado.
Fria
lâmina de punhal cravado,
a razão ordena
o que a emoção incendeia.
No papel impresso, o poema
pensa emoções e sente ideias.
Em: “Rosa da Esperança” (1950)
O golpe no coração
(René F. G. Magritte: pintor belga)
Referência:
TRIBUZI, Bandeira. Arte poética. In:
__________. Obra poética. São Paulo, SP: Siciliano, 2002. p. 75.
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