Um poema, segundo Bauer, seria uma espécie de carona com um estranho, na qual o leitor empreenderia viagem à busca de si mesmo: a poesia, sob tal mirada, equiparar-se-ia a um espelho a provocar “distorções” nas imagens que nele se refletem, num intercâmbio biunívoco, pois, quiçá, o desconhecido motorista não corresponderia a um quinhão relevante a subsistir em estado de inconsciência na mente daquele que interpreta os versos?!
O passeio num bosque de incógnitas expectativas permite maravilhamentos insuspeitados para alguém que caminha por áridas sendas: miríades de epifanias e de conexões vêm à tona quando se abre o espírito ao imenso céu azul ou a um mar sem fronteiras, liberando a vista a horizontes com potencial para redefinir o que sejam as nossas fugazes vidas!
J.A.R. – H.C.
Steven Bauer
(n. 1948)
Intro to Poetry
You thought it was math that taught
the relation of time and speed
but it’s farther than you knew
from that sun-lit white-walled classroom
to this darkened lounge with its couch
and overstuffed chairs. How many miles,
would you say, since you talked
as if poetry were no distorting mirror,
one-way street? But listen, sometimes
it’s like this, a stranger’s Ford pulls up,
and you, with no plans for the afternoon,
get in. He doesn’t talk, stares at the road
and it’s miles before you understand
you didn’t want to travel. His lips say no
as you reach for the radio’s knob.
In this silence you fall deeper
into yourself, and even the car
disappears, the stranger’s face blurs
into faded upholstery, and all things
being equal, you’re alone as though
you’ve wandered into a forest with night
coming on, no stars, the memory of sun
and a voice’s asking Is this my life?
Charminar
(Iruvan Karunakaran: pintor indiano)
Introdução à Poesia
Pensavas que era a matemática que ensinava
a relação entre tempo e velocidade,
mas há mais distância do que a que imaginavas
desde aquela sala de aula de paredes brancas
iluminadas pelo sol
até esta sala escura com seu sofá
e cadeiras estofadas. Quantas milhas,
dirias, desde o ponto em que falavas
como se a poesia não fosse um espelho
de distorção,
uma rua de mão única? Mas escuta, às vezes
é assim, o Ford de um desconhecido encosta
rente ao meio-fio,
e tu, sem planos para a tarde,
nele entras. Ele nada diz, encara fixamente a
estrada
e milhas se passam até que compreendas
que não querias viajar. Seus lábios dizem não
assim que alcanças o botão do rádio.
Nesse silêncio, imerges mais profundamente
em ti mesmo, e até mesmo o carro
desaparece, o rosto do desconhecido se esboroa
numa tapeçaria descolorida, e tudo o mais em
igualdade de condições, estás sozinho como se
houvesses vagado por um bosque com a noite
a se acercar, sem estrelas, a lembrança do sol
e uma voz que te pergunta Esta é a minha vida?
Referência:
BAUER, Steven. Intro to poetry. In:
MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and
writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p.
23-24.
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