Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Murilo Mendes - Os amantes submarinos

Parte e observador do que se passa no fundo do mar, vale dizer, um encontro amoroso plasmado entre seres marinhos multicoloridos e ondulações de massas d’água, o falante revela-se o descritor de uma paisagem presumivelmente onírica, mas que se pretende real, pois que os peixes à volta do escafandrista – o privilegiado espreitador do cenário –, conspiram para fazê-lo adormecer.

Nesse encontro furtivo noturno sob os mares, os amantes esperam que não surja a aurora – esse vestígio de “irrealidade” –, levando-os a ter que subir à superfície: presencia-se, assim, uma metamorfose às avessas, de seres terrestres que se convertem (ou se pretendem) subaquáticos, passando a viver num mundo lendário, em companhia de sereias e de borboletas de ocorrência milenária.

J.A.R. – H.C.

 

Murilo Mendes

(1901-1975)

 

Os amantes submarinos

 

Esta noite eu te encontro nas solidões de coral

Onde a força da vida nos trouxe pela mão.

No cume dos redondos lustres em concha

Uma dançarina se desfolha.

Os sonhos da tua infância

Desenrolam-se da boca das sereias.

A grande borboleta verde do fundo do mar

Que só nasce de mil em mil anos

Adeja em torno a ti para te servir,

Apresentando-te o espelho em que a água se mira,

E os finos peixes amarelos e azuis

Circulando nos teus cabelos

Trazem pronto o líquido para adormecer o escafandrista.

Mergulhamos sem pavor

Nestas fundas regiões onde dorme o veleiro,

À espera que o irreal não se levante em aurora

Sobre nossos corpos que retornam às águas do paraíso.

 

Amor Subaquático

(Anupam Pal: artista indiano)


Referência:

MENDES, Murilo. Os amantes submarinos. In: __________. O menino experimental: antologia. 2. ed. São Paulo, SP: Summus, 1979. p. 335.

 

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