Este curto poema do poeta catarinense levou-me a recordar de certa passagem do livro “A mulher do tenente francês” (1969), do escritor inglês John Robert Fowles (1926-2005), na qual o autor expressa a comum ideia de que todos somos poetas, ainda que muitos não escrevam poesias, e, também, todos somos novelistas, vale dizer, temos o hábito de escrever futuros de ficção para nós mesmos, embora talvez, hoje, inclinemo-nos mais a tomarmos parte num filme – caso haja chances para tanto. (FOWLES, 1970, p. 295)
Mas o que dizer da asserção de que “toda poesia é exaltação que engrandece o parco”, o limitado, o escasso? Será que a poesia todo tempo se restringe a centrar suas epifanias no irrisório? Decerto que não, a menos que se tenha o vezo de lobrigar o mundo ou a vida como um nada: há espaço para o enaltecimento do parco pela poesia, mas nem toda poesia a isso se restringe; antes, nela, há mais domínios para além do parco, pois toda a gradação do insignificante ao grandioso, do tangível ao intangível, do terrível ao inefável pode ser objeto de meritórias loas poéticas!
J.A.R. – H.C.
Hugo Mund Júnior
(n. 1933)
O poeta em todos nós
O poeta em todos nós, asa de jade,
subjaz no endêmico da entidade orgânica.
Construímos o lar que nos confina
no apocalipse da mente, sempre dramático,
mesmo provisório, apenas suficiente
para equilibrar o pensamento.
Todo verso é ornato, toda poesia
é exaltação que engrandece o parco.
A inspiração do poeta
(Nicolas Poussin: pintor francês)
Referências:
FOWLES, John R. The french lieutenant’s woman. 1st publ. New York, NY: Signet, 1970.
MUND JÚNIOR, Hugo. O poeta em todos
nós. In: __________. Poesia reunida. Introdução e posfácio por Lauro
Junkes. Florianópolis, SC: Academia Catarinense de Letras, 1997. p. 240.
(Coleção ACL; v. 13)
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