Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de setembro de 2021

Alice Jones - O Pé

Uma profusão de poemas já exibiu o coração como objeto de desvelo, a grande maioria – é verdade – não exatamente dirigida a especificar-lhe a estrutura física ou o funcionamento. Mas o que dizer de versos que devotam-se a esmiuçar ossos e tendões que compõem o pé humano – esse “improvável suporte” que nos equilibra e nos deixa aprumados?!

O poema quase se parece a uma aula de anatomia humana, mais especificamente de uma região que, juntamente com a das mãos, abarcam mais da metade dos ossos do corpo. Ao fim, uma espécie de digressão em fuga: nossas unhas, dispostas em curvas, relembrariam as garras “selvagens e necessárias” da criatura ancestral de onde partimos.

J.A.R. – H.C.

 

Alice Jones

(n. 1949)

 

The Foot

 

Our improbable support, erected

on the osseus architecture

of the calcaneous, talus, cuboid,

navicular, cuneiforms, metatarsals,

phalanges, a plethora of hinges,

 

all strung together by gliding

tendons, covered by the pearly

plantar fascia, then fat-padded

to form the sole, humble surface

of our contact with earth.

 

Here’s the body’s broadest tendon

anchors the heel’s fleshy base,

the finely wrinkled skin stretches

forward across the capillaried arch,

to the ball, a balance point.

 

A wide web of flexor tendons

and branched veins maps the dorsum,

fades into the stub-laden bone

splay, the stuffed sausage sacks

of toes, each with a tuft

 

of proximal hairs to introduce

the distal nail, whose useless

curve remembers an ancestor,

the vanished creature’s wild

and necessary claw.

 

Bailarina

(Andrew Atroshenko: pintor russo)

 

O Pé

 

Nosso improvável suporte, erigido

sobre a arquitetura óssea

do calcâneo, tálus, cuboide,

navicular, cuneiformes, metatarsais,

falanges, uma pletora de articulações,

 

todas encordoadas por deslizantes

tendões, cobertas pela fáscia plantar

perolada, então estopada de gordura

para formar a única e humilde superfície

de nosso contato com a terra.

 

Aqui está o tendão mais largo do corpo

a ancorar a base carnuda do calcanhar,

a pele finamente enrugada que se estende

para a frente através do arco capilarizado,

até a bola – um ponto de equilíbrio.

 

Uma ampla rede de tendões flexores

e veias ramificadas mapeia o dorso,

dispersando-se na extensão óssea repleta

de pontas – os dedos que nem embutidos

involucrados –, cada qual com um tufo

 

de pelos proximais para introduzir

a unha distal, cuja curvatura

inútil relembra um ancestral –

a selvagem e necessária garra

da criatura desaparecida.


Referência:

JONES, Alice. The foot. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 42-43.

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