Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Denise Levertov - Em Marcha para o Oeste

No evoluir de sua vida, como o sol do leste a oeste, a poetisa vê expandir-se a própria sombra, simbolismo para um crescimento menos físico que interior, no afã de cumprir os seus objetivos, atingindo assim maturidade e independência de vontade, de forma a prestar contributo, de algum modo, à luta das mulheres por um mundo no qual a dignidade humana seja um denominador comum para um convívio fraterno.

A mutação das cores, da uva verdoenga à muscadínea, traz os seus fardos, mas também o contentar-se com a condição de ser mulher e, mais que isso, ser ela mesma, pois como bem o enfatizou, primeiramente, Madame Beauvoir – “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” –, com o superveniente complemento do compositor Caetano Veloso, em “Dom de iludir” – “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”!

J.A.R. – H.C.


Denise Levertov

(1923-1997)

 

Stepping Westward

 

What is green in me

darkens, muscadine.

 

If woman is inconstant,

good, I am faithful to

 

ebb and flow, I fall

in season and now

 

is a time of ripening.

If her part

 

is to be true,

a north star,

 

good, I hold steady

in the black sky

 

and vanish by day,

yet burn there

 

in blue or above

quilts of cloud.

 

There is no savor

more sweet, more salt

 

than to be glad to be

what, woman,

 

and who, myself,

I am, a shadow

 

that grows longer as the sun

moves, drawn out

 

on a thread of wonder.

If I bear burdens

 

they begin to be remembered

as gifts, goods, a basket

 

of bread that hurts

my shoulders but closes me

 

in fragrance. I can

eat as I go.

 

Colhendo nabos

(Robert Cree Crawford: pintor escocês)

 

Em Marcha para o Oeste

 

O verde que há em mim

escurece, muscadínea.

 

Se a mulher é inconstante,

bem, sou fiel ao

 

fluxo e refluxo, rendo-me

à estação e agora

 

é um tempo de maturação.

Se a sua parte

 

há de ser verdadeira,

uma estrela do norte,

 

bem, mantenho-me firme

no céu negro

 

e desapareço durante o dia,

mas lá eu ardo

 

em azul ou por cima

de mantas de nuvens.

 

Não há sabor

mais doce, mais salgado

 

que alegrar-se de ser

o quê, mulher,

 

e quem, eu mesma,

sou, uma sombra

 

que se alonga à medida que o sol

se move, distendida

 

por um cordel de assombro.

Se carrego fardos,

 

começam a ser discernidos

como regalos, bens, um cesto

 

de pães que me machuca

os ombros, mas que me envolve

 

em sua fragrância. Posso

comê-los enquanto caminho.


Referência:

LEVERTOV, Denise. Stepping westward. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 13-14.

Nenhum comentário:

Postar um comentário