No evoluir de sua vida, como o sol do leste a oeste, a poetisa vê expandir-se a própria sombra, simbolismo para um crescimento menos físico que interior, no afã de cumprir os seus objetivos, atingindo assim maturidade e independência de vontade, de forma a prestar contributo, de algum modo, à luta das mulheres por um mundo no qual a dignidade humana seja um denominador comum para um convívio fraterno.
A mutação das cores, da uva verdoenga à muscadínea, traz os seus fardos, mas também o contentar-se com a condição de ser mulher e, mais que isso, ser ela mesma, pois como bem o enfatizou, primeiramente, Madame Beauvoir – “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” –, com o superveniente complemento do compositor Caetano Veloso, em “Dom de iludir” – “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”!
J.A.R. – H.C.
Denise Levertov
(1923-1997)
Stepping Westward
What is green in me
darkens, muscadine.
If woman is inconstant,
good, I am faithful to
ebb and flow, I fall
in season and now
is a time of ripening.
If her part
is to be true,
a north star,
good, I hold steady
in the black sky
and vanish by day,
yet burn there
in blue or above
quilts of cloud.
There is no savor
more sweet, more salt
than to be glad to be
what, woman,
and who, myself,
I am, a shadow
that grows longer as the sun
moves, drawn out
on a thread of wonder.
If I bear burdens
they begin to be remembered
as gifts, goods, a basket
of bread that hurts
my shoulders but closes me
in fragrance. I can
eat as I go.
Colhendo nabos
(Robert Cree Crawford: pintor escocês)
Em Marcha para o Oeste
O verde que há em mim
escurece, muscadínea.
Se a mulher é inconstante,
bem, sou fiel ao
fluxo e refluxo, rendo-me
à estação e agora
é um tempo de maturação.
Se a sua parte
há de ser verdadeira,
uma estrela do norte,
bem, mantenho-me firme
no céu negro
e desapareço durante o dia,
mas lá eu ardo
em azul ou por cima
de mantas de nuvens.
Não há sabor
mais doce, mais salgado
que alegrar-se de ser
o quê, mulher,
e quem, eu mesma,
sou, uma sombra
que se alonga à medida que o sol
se move, distendida
por um cordel de assombro.
Se carrego fardos,
começam a ser discernidos
como regalos, bens, um cesto
de pães que me machuca
os ombros, mas que me envolve
em sua fragrância. Posso
comê-los enquanto caminho.
Referência:
LEVERTOV, Denise. Stepping westward. In:
MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and
writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p.
13-14.
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