Contrariamente ao vocativo de Lamartine (1790-1869), o tempo não suspende o seu voo, motivo por que a poetisa polonesa já começa a perceber os seus efeitos sobre o corpo, esse “animal de carga” povoado por pensamentos, tais como “pássaros assustados” que dele se alimentam, exigindo cuidados extras de sua proprietária.
O corpo serve de termômetro para mediarmos nossa existência no mundo, e quando ele começa a ressoar em tom menor é porque seus músculos e tendões vão aos poucos perdendo o tônus e a beleza, muitas vezes sob o efeito de um notório estado de agitação – vide caso em comento –, como poeira a danificar-lhe a plasticidade dos movimentos físicos e mentais.
J.A.R. – H.C.
Halina Poświatowska
(1935-1967)
nie mam dawnej czułości dla mojego ciała
nie mam dawnej czułości dla mojego ciała
jednak je toleruję jak pociągowe zwierzę
które jest pożyteczne chociaż wymaga wielu starań
dostarcza bólu i radości i bólu i radości
czasem zastyga z rozkoszy
a czasem jest schronieniem dla snu
znam jego korytarze kręte
wiem którędy przychodzi zmęczenie
jakie ścięgna napina śmiech
i pamiętam jedyny smak łez tak podobny
do smaku krwi
moje myśli – stado trwożnych ptaków
karmią się na zagonie mego ciała
nie mam dla niego dawnej czułości
ale czuję ostrzej niż przedtem
że sięgam nie dalej niż moje wyciągnięte ręce
i nie wyżej niż mogą mnie unieść wspięte palce u nóg
Oda do rąk (1966)
Ninfa chorando
(Jean-Jacques Henner: pintor francês)
não tenho a antiga ternura pelo meu
corpo
não tenho a antiga ternura pelo meu corpo
mas o tolero como um animal de carga
que é útil apesar de exigir muitos cuidados
e traz dor e alegria e dor e alegria
às vezes fica imóvel de tanto prazer
e às vezes serve de abrigo ao sono
conheço os seus corredores sinuosos
sei por qual deles chega o cansaço
e quais tendões o riso estica
e lembro do gosto único de lágrimas
tão parecido com o de sangue
os meus pensamentos – um bando de pássaros assustados
eles alimentam-se do campo do meu corpo
não tenho para ele a antiga ternura
mas sinto mais forte do que antes
que não alcanço nada além das minhas mãos esticadas
e nada acima daquilo ao qual me levantam as pontas
dos meus pés
Ode para as mãos (1966)
Referência:
POŚWIATOWSKA, Halina. nie mam dawnej czułości dla mojego ciała / não tenho a antiga ternura pelo meu corpo. Tradução de Magdalena Nowinska. In: NOWINSKA, Magdalena. Jeszcze jedno
wspomnienie / Mais uma lembrança. (n.t.) Revista
Literária em Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 1, n. 1, set. 2010.
Em polonês: p. 61; em português: p. 72. Disponível neste endereço. Acesso em: 31 jul.
2021.
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