Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Philip Levine - Luz das Estrelas

Presumindo que haja mais complexidade na definição de um estado de felicidade plenamente estável – o ser feliz – do que na de um outro algo circunstancial – o estar feliz –, grafei, na tradução abaixo, a primeira forma naqueles pontos em que a conjugação do verbo “to be” congrega-se à palavra “happy”, isto porque, em tese, seria menos difícil a um guri assentir quanto à segunda forma do que em relação à primeira, distintamente de um adulto – como resultará patente ao internauta, finda a leitura do poema de Levine.

 

Veja-se que, no momento presente, o poeta mostra-se capaz de perceber toda a extensão da pergunta que o pai lhe propôs na infância – se era feliz: a linguagem já agora está à altura do nível de consciência do falante, conjuntura que, no desdobrar dos fatos, somente ao genitor revestia-se de ampla correspondência.

 

Sob as estrelas piscantes – olhos diminutos testemunhas do encontro –, pai e filho não passam de crianças. Nesse estado de pura brandura, o pai antevê a necessidade de proteger o seu rebento, ante a inevitabilidade da perda da pureza ou da inocência mais alguns anos à frente, ou mesmo diante da finitude da existência.

 

J.A.R. – H.C.

 

Philip Levine

(1928-2015)

 

Starlight

 

My father stands in the warm evening

on the porch of my first house.

I am four years old and growing tired.

I see his head among the stars,

the glow of his cigarette, redder

than the summer moon riding

low over the old neighborhood. We

are alone, and he asks me if I am happy.

“Are you happy?” I cannot answer.

I do not really understand the word,

and the voice, my father’s voice, is not

his voice, but somehow thick and choked,

a voice I have not heard before, but

heard often since. He bends and passes

a thumb beneath each of my eyes.

The cigarette is gone, but I can smell

the tiredness that hangs on his breath.

He has found nothing, and he smiles

and holds my head with both his hands.

Then he lifts me to his shoulder,

and now I too am among the stars,

as tall as he. Are you happy? I say.

He nods in answer, Yes! oh yes! oh yes!

And in that new voice he says nothing,

holding my head tight against his head,

his eyes closed up against the starlight,

as though those tiny blinking eyes

of light might find a tall, gaunt child

holding his child against the promises

of autumn, until the boy slept

never to waken in that world again.

 

Pai e Filho

(Lutz Baar: artista sueco)

 

Luz das Estrelas

 

Meu pai está de pé no cálido anoitecer

na varanda da minha primeira casa.

Tenho quatro anos e estou ficando cansado.

Vejo sua cabeça entre as estrelas,

o brilho de seu cigarro, mais rubro

do que a lua de verão pairando

baixo sobre o antigo bairro. Estamos

sozinhos e ele me pergunta se sou feliz.

És feliz? Não sou capaz de lhe responder.

Não compreendo realmente a palavra

e a voz, a voz do meu pai, não é

a sua voz, mas um quê de denso e abafado,

uma voz que nunca tinha ouvido antes, mas

que passei a ouvir desde então. Inclina-se e passa

o polegar por baixo de cada um dos meus olhos.

O cigarro se foi, mas posso perceber

o cansaço que se lhe agarra à respiração.

Nada encontrou, sorri

e segura minha cabeça com ambas as mãos.

Levanta-me então à altura de seus ombros,

e agora também estou entre as estrelas,

tão alto quanto ele. És feliz? pergunto-lhe.

Acena-me em resposta: Sim! Oh sim! Oh sim!

E com aquele nova voz nada diz,

segurando-me a cabeça contra a dele,

seus olhos fechados contra a luz das estrelas,

como se aqueles diminutos e piscantes olhos de luz

pudessem alcançar uma criança alta e macilenta

segurando seu filho contra as promessas

do outono, até que o menino dormisse

para nunca mais despertar naquele mundo.

 

Referência:

 

LEVINE, Philip. Starlight. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 288-289.

2 comentários:

  1. Até que em fim depos de muito tempo procurando consegui achar um blog descente que fale sobre literatura.

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    Respostas
    1. Prezado(a),
      Agradeço-lhe pelo comentário, embora reconheça haver muitos outros sítios e blogs na grande rede com méritos semelhantes ou até mais dignos de apreço.
      Espero continuar despertando, em internautas como você, o interesse pela beleza das palavras, ou melhor, da poesia que por meio delas somos capazes de desvelar no quotidiano.
      João A. Rodrigues

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