De um clássico soneto, este poema de Artur da Távola tem apenas o número de versos – quatorze no total –, pois que sem esquema de rimas ou métrica estável. De resto, é uma sucessão de conjunções adversativas a conferir sentido reverso às proposições lançadas: embora, todavia, porém, mas, contudo, ainda que, apesar de, a despeito de, não obstante, outrossim, sem embargo, malgrado.
Viver, ser e amar, três dos principais feitos que melhor caracterizam o que seja humano, surgem flexionados por latentes contratempos: malgrado os elementos contingentes que lhes acarretam contraditas – as asperezas da vida, as perplexidades do ser, as divergências no relacionamento –, preferimos um mundo de experiências a uma existência insípida.
J.A.R. – H.C.
Artur da Távola
(1936-2008)
Embora soneto
Vivo meu porém
No encontro do todavia
Sou mas.
Contudo
Encho-me de ainda
Na espera do quando
Desando ou desbundo.
Viver é apesar
Amar é a despeito
Ser é não obstante,
Destarte
Sou outrossim
Ilusão, sem embargo
Malgrado senão.
O Enxadrista
(Isidor Kaufmann: pintor austro-húngaro)
Referência:
BARROS, Paulo Alberto M. Monteiro de
(Artur da Távola). Embora soneto. In: __________. Calentura. Rio de
Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1986. p. 17.
Excelente!
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