Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Artur da Távola - Embora soneto

De um clássico soneto, este poema de Artur da Távola tem apenas o número de versos – quatorze no total –, pois que sem esquema de rimas ou métrica estável. De resto, é uma sucessão de conjunções adversativas a conferir sentido reverso às proposições lançadas: embora, todavia, porém, mas, contudo, ainda que, apesar de, a despeito de, não obstante, outrossim, sem embargo, malgrado.

Viver, ser e amar, três dos principais feitos que melhor caracterizam o que seja humano, surgem flexionados por latentes contratempos: malgrado os elementos contingentes que lhes acarretam contraditas – as asperezas da vida, as perplexidades do ser, as divergências no relacionamento –, preferimos um mundo de experiências a uma existência insípida.

J.A.R. – H.C.

 

Artur da Távola

(1936-2008)

 

Embora soneto

 

Vivo meu porém

No encontro do todavia

Sou mas.

Contudo

Encho-me de ainda

Na espera do quando

Desando ou desbundo.

Viver é apesar

Amar é a despeito

Ser é não obstante,

Destarte

Sou outrossim

Ilusão, sem embargo

Malgrado senão.

 

O Enxadrista

(Isidor Kaufmann: pintor austro-húngaro)


Referência:

BARROS, Paulo Alberto M. Monteiro de (Artur da Távola). Embora soneto. In: __________. Calentura. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1986. p. 17.

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