Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Ralph Waldo Emerson - A Tempestade de Neve

Emerson descreve nas linhas deste poema, presente em tantas antologias, as repercussões visuais provocadas por uma nevasca sobre as instalações de uma fazenda, a gerar muitos inconvenientes aos que ali se encontram, levando-os a praticamente paralisar suas atividades, mantendo-os na “tumultuosa privacidade resultante da borrasca”.

A despeito dos contratempos provocados pela neve – danos às estruturas, à natureza e aos negócios, atrasos nos transportes, idem nos correios etc. –, Emerson vislumbra algum proveito em todas os impactos gerados pela nevasca durante a noite: que os artistas, os arquitetos e os artífices humanos os imitem, naquilo que expressam de indômito labor, de força criadora.

J.A.R. – H.C.

 

Ralph Waldo Emerson

(1803-1882)

 

The Snowstorm

 

Announced by all the trumpets of the sky,

Arrives the snow, and, driving o’er the fields,

Seems nowhere to alight: the whited air

Hides hills and woods, the river, and the heaven,

And veils the farm-house at the garden’s end.

The sled and traveller stopped, the courier’s feet

Delayed, all friends shut out, the housemates sit

Around the radiant fireplace, enclosed

In a tumultuous privacy of storm.

Come see the north wind’s masonry.

Out of an unseen quarry evermore

Furnished with tile, the fierce artificer

Curves his white bastions with projected roof

Round every windward stake, or tree, or door.

Speeding, the myriad-handed, his wild work

So fanciful, so savage, nought cares he

For number or proportion. Mockingly,

On coop or kennel he hangs Parian wreaths;

A swan-like form invests the hidden thorn;

Fills up the farmer’s lane from wall to wall,

Maugre the farmer’s sighs; and, at the gate,

A tapering turret overtops the work.

And when his hours are numbered, and the world

Is all his own, retiring, as he were not,

Leaves, when the sun appears, astonished Art

To mimic in slow structures, stone by stone,

Built in an age, the mad wind’s night-work,

The frolic architecture of the snow.

 

Tempestade de neve:

Barco a vapor à entrada de um porto

(J. M. William Turner: artista inglês)

 

A Tempestade de Neve

 

Anunciada por todas as trombetas celestes,

Chega a neve, e, a revolutear pelos campos,

Parece não pousar em parte alguma: o ar alvacento

Esconde colinas e bosques, o rio e o firmamento;

Oculta a sede da fazenda ao final do jardim.

Trenó e viajante imobilizados, os pés do emissário

Desacelerados, distanciados todos os amigos,

Sentam-se os da casa em torno da radiante lareira,

Na tumultuosa privacidade resultante da borrasca.

Vejam-se as obras urdidas pelo vento do norte.

Por fora de uma escondida canteira, ordinariamente

Guarnecida por telhas, o feroz artífice torneia

Os seus bastiões brancos, com cobertura em projeção,

À volta de cada estaca, viga ou porta a barlavento.

Lépido, em miríades de mãos, seu lavor indômito

É tão excêntrico e selvagem, que nada lhe importam

Razões de número ou proporção. Zombeteiramente,

Em viveiro ou canil dependura grinaldas de Paros; (*)

Em forma de cisne envolve o encobertado espinheiro;

Obstrui a trilha do lavrador de um lado a outro,

Malgrado os seus suspiros; ao portão, de resto,

Um torreão coniforme sobreleva a obra.

E quando contadas estão suas horas, sendo o mundo

Todo seu, retira-se como se jamais houvesse existido,

Deixando para trás, ao nascer do sol, essa Arte assombrosa

A imitar lentas estruturas, pedra sobre pedra,

Erigidas numa época  a faina noturna do vento louco,

A pândega arquitetura da neve.


Nota:

(*) Alusão ao fino e branco mármore extraído nas imediações da cidade grega de Paros.

Referência:

EMERSON, Ralph Waldo. The snowstorm. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 53-54.

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