Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Bueno de Rivera - O Cão e o Homem

Aqui temos o cão não como a muitos se parece, bicho fiel no limite da subserviência, mas, pelo contrário, a conhecer os limites de seu dono, compadecendo-se dele, consolando-o com o seu afeto semelhante a uma esmola: imaturo é o animal humano, incapaz de descansar sobre quatro patas, ainda que ébrio.

O falante vê o cão a interpretar o homem feito um “louco de boa memória”, pois que inepto para esquecer o transcorrido, mediato ou imediato, pondo-se a sofrer por sua infausta história, nem sempre de momentos “arcos do triunfo” – como diria Pessoa –, antes, repleta de batalhas perdidas, cujas memórias em melhor situação estariam se apagadas.

J.A.R. – H.C.

 

Bueno de Rivera

(1911-1982)

 

O Cão e o Homem

 

O homem é visto pelo cão

como um animal imaturo

que não descansa nunca em quatro patas

mesmo estando bêbedo.

 

O cão sabe que todo o homem

é um louco de boa memória

que não consegue esquecer

o ontem, o antes e o acontecer.

 

Por isso, o cão compadece-se

dele e o acompanha e o consola.

 

E dá ao homem todo esse afeto

como uma esmola.

 

Retrato de homem com um cão

(Bartolomeo Passerotti: pintor italiano)


Referência:

RIVERA, Bruno. O cão e o homem. In: __________. Melhores poemas: Bueno de Rivera. Seleção de Affonso Romano de Sant’Anna. São Paulo, SP: Global, 2003. p. 149. (‘Os Melhores Poemas’; n. 46)

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