Num tom emocional,
pejado de exclamações e perguntas retóricas, Maiacovski volta-se para as
estrelas, a fim de chamar a atenção dos leitores para a perfeição da natureza e,
por extensão, de todo o universo, alheio às injustiças e iniquidades dos
homens, suas conflagrações, tiranias, egoísmos, imponderadas paixões.
A junção contrastante
de palavras para metaforizar as estrelas – cuspidelas de pérolas – aguça-nos a
lembrança da narrativa de cura para um cego em Betsaida (Mc 8:22-25), levada a
efeito por Cristo cuspindo-lhe nos olhos: fez-se luz para uma vida até ali
suportada na escuridão. Semelhantemente, todos aqueles pontos perolados,
“cuspidos” por Deus no firmamento, teriam a sua razão de ser para alguém neste
planeta em situação de pesar, indicando-lhes a senda para a luz!
J.A.R. – H.C.
Vladímir Maiacovski
(1893-1930)
Послушайте!
Ведь, если звезды зажигают –
значит – это кому-нибудь нужно?
Значит – кто-то хочет, чтобы они были?
Значит – кто-то называет эти плево́чки
жемчужиной?
И, надрываясь
в метелях полýденной пыли,
врывается к Богу,
боится, что опоздал,
плачет,
целует ему жилистую руку,
просит –
чтоб обязательно была звезда! –
клянется –
не перенесет эту беззвездную муку!
А после
ходит тревожный,
но спокойный наружно.
Говорит кому-то:
“Ведь теперь тебе ничего?
Не страшно?
Да?!”
Послушайте!
Ведь, если звезды
зажигают –
значит – это кому-нибудь нужно?
Значит – это необходимо,
чтобы каждый вечер
над крышами
загоралась хоть одна звезда?!
Noite estrelada
(Jean-François Millet:
pintor francês)
Estrela
Escutai! Se as estrelas
se acendem
será por que alguém
precisa delas?
Por que alguém as
quer lá em cima?
Será que alguém por
elas clama,
por essas cuspidelas
de pérolas?
Ei-lo aqui, pois,
sufocado, ao meio-dia,
no coração dos
turbilhões de poeira;
ei-lo, pois, que corre
para o bom Deus,
temendo chegar
atrasado,
e que lhe beija
chorando
a mão fibrosa.
Implora! Precisa
absolutamente
duma estrela lá no
alto!
Jura! Que não poderia
mais suportar
essa tortura de um
céu sem estrelas!
Depois vai-se embora,
atormentado, mas
bancando o gaiato
e diz a alguém que
passa:
“Muito bem! Assim
está melhor agora, não é?
Não tens mais medo,
hein?”
Escutai, pois! Se as
estrelas se acendem
é porque alguém
precisa delas.
É porque, em verdade,
é indispensável
que sobre todos os
tetos, cada noite,
uma única estrela,
pelo menos, se alumie.
Referências:
Em Russo
МАЯКОВСКИЙ, Владимир.
Послушайте!. Disponível neste
endereço. Acesso em: 14 mai. 2021.
Em Português
MAIACOVSKI, Vladímir.
Estrela. Tradução de Emílio Carrera Guerra. In: __________. Antologia
poética. Estudo biográfico e tradução de Emílio Carrera Guerra. 4. ed. São
Paulo, SP: Max Limonad, 1987. p. 97. (Série ‘Literatura’, n. 3)
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