Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Vladímir Maiacovski - Estrela

Num tom emocional, pejado de exclamações e perguntas retóricas, Maiacovski volta-se para as estrelas, a fim de chamar a atenção dos leitores para a perfeição da natureza e, por extensão, de todo o universo, alheio às injustiças e iniquidades dos homens, suas conflagrações, tiranias, egoísmos, imponderadas paixões.

 

A junção contrastante de palavras para metaforizar as estrelas – cuspidelas de pérolas – aguça-nos a lembrança da narrativa de cura para um cego em Betsaida (Mc 8:22-25), levada a efeito por Cristo cuspindo-lhe nos olhos: fez-se luz para uma vida até ali suportada na escuridão. Semelhantemente, todos aqueles pontos perolados, “cuspidos” por Deus no firmamento, teriam a sua razão de ser para alguém neste planeta em situação de pesar, indicando-lhes a senda para a luz!

 

J.A.R. – H.C.

 

Vladímir Maiacovski

(1893-1930)

 

Послушайте!

 

Послушайте!

Ведь, если звезды зажигают

значит это кому-нибудь нужно?

Значит кто-то хочет, чтобы они были?

Значит кто-то называет эти плево́чки

жемчужиной?

И, надрываясь

в метелях полýденной пыли,

врывается к Богу,

боится, что опоздал,

плачет,

целует ему жилистую руку,

просит

чтоб обязательно была звезда!

клянется

не перенесет эту беззвездную муку!

А после

ходит тревожный,

но спокойный наружно.

Говорит кому-то:

Ведь теперь тебе ничего?

Не страшно?

Да?!”

Послушайте!

Ведь, если звезды

зажигают

значит это кому-нибудь нужно?

Значит это необходимо,

чтобы каждый вечер

над крышами

загоралась хоть одна звезда?!

 

Noite estrelada

(Jean-François Millet: pintor francês)

 

Estrela

 

Escutai! Se as estrelas se acendem

será por que alguém precisa delas?

Por que alguém as quer lá em cima?

Será que alguém por elas clama,

por essas cuspidelas de pérolas?

Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia,

no coração dos turbilhões de poeira;

ei-lo, pois, que corre para o bom Deus,

temendo chegar atrasado,

e que lhe beija chorando

a mão fibrosa.

Implora! Precisa absolutamente

duma estrela lá no alto!

Jura! Que não poderia mais suportar

essa tortura de um céu sem estrelas!

Depois vai-se embora,

atormentado, mas bancando o gaiato

e diz a alguém que passa:

“Muito bem! Assim está melhor agora, não é?

Não tens mais medo, hein?”

 

Escutai, pois! Se as estrelas se acendem

é porque alguém precisa delas.

É porque, em verdade, é indispensável

que sobre todos os tetos, cada noite,

uma única estrela, pelo menos, se alumie.

 

Referências:

 

Em Russo

 

МАЯКОВСКИЙ, Владимир. Послушайте!. Disponível neste endereço. Acesso em: 14 mai. 2021.

 

Em Português

 

MAIACOVSKI, Vladímir. Estrela. Tradução de Emílio Carrera Guerra. In: __________. Antologia poética. Estudo biográfico e tradução de Emílio Carrera Guerra. 4. ed. São Paulo, SP: Max Limonad, 1987. p. 97. (Série ‘Literatura’, n. 3)

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