Publicado postumamente, em 1875, embora redigido em 1829, este poema autobiográfico de Poe, com 22 versos de rimas emparelhadas, converteu-se em soneto na versão ao português de João Moura Jr., mantido o esquema de rimas: a imaginação e o poder visionário nele surgem como maldição e benção aos olhos do poeta.
Ser diferente em relação à maioria pode ser um fardo, levando a um consectário sentimento de alheamento e solidão. Mas também tem o condão de tornar indeléveis os traços de identidade e mais perceptíveis as singularidades que dominam a alma, quer seja ela diáfana quer nubilosa – como a de Poe: “Homo solitarius aut deus aut bestia”, mais ou menos como o afirmava Aristóteles em “A Política”.
J.A.R. – H.C.
Edgar Allan Poe
(1809-1849)
Alone
From childhood’s hour I have not been
As others were – I have not seen
As others saw – I could not bring
My passions from a common spring –
From the same source I have not taken
My sorrow – I could not awaken
My heart to joy at the same tone –
And all I lov’d – I lov’d alone –
Then – in my childhood – in the dawn
Of a most stormy life – was drawn
From ev’ry depth of good and ill
The mystery which binds me still –
From the torrent, or the fountain –
From the red cliff of the mountain –
From the sun that ’round me roll’d
In its autumn tint of gold –
From the lightning in the sky
As it pass’d me flying by –
From the thunder, and the storm –
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view –
Sozinho
(Theophile-Emmanuel Duverger: pintor francês)
Só
Desde criança nunca fui como outros foram
Nem meus olhos nunca viram o que outros viram,
Já que minhas paixões não têm a mesma origem,
Não vêm da mesma fonte as dores que me afligem.
Também o prazer era de outra natureza –
Tudo que amei ninguém amou, tenho certeza.
Lá – no despontar de um viver atormentado –,
Do âmago do bem e do mal foi arrancado
Este mistério que ainda me traz prisioneiro:
Da cascata e da torrente – do ocre do outeiro –
Do sol a desfilar sua outonal majestade
E da nuvem que a meus olhos tomou o perfil
De um demônio neste céu azul anil.
Folhetim, 28.07.85
Referências:
Em Inglês
POE, Edgar Allan. Alone. In: __________. The raven and others poems. Iustrated by Gahan Wilson. 1st ed. New York, NY: Berkley Publishing, feb. 1990. p. 32-33. (‘Classics Ilustrated’; n. 1)
Em Português
POE, Edgar Allan. Só. Tradução de João
Moura Jr. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim:
poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 66.
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