Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Edgar Allan Poe - Só

Publicado postumamente, em 1875, embora redigido em 1829, este poema autobiográfico de Poe, com 22 versos de rimas emparelhadas, converteu-se em soneto na versão ao português de João Moura Jr., mantido o esquema de rimas: a imaginação e o poder visionário nele surgem como maldição e benção aos olhos do poeta.

Ser diferente em relação à maioria pode ser um fardo, levando a um consectário sentimento de alheamento e solidão. Mas também tem o condão de tornar indeléveis os traços de identidade e mais perceptíveis as singularidades que dominam a alma, quer seja ela diáfana quer nubilosa – como a de Poe: “Homo solitarius aut deus aut bestia”, mais ou menos como o afirmava Aristóteles em “A Política”.

J.A.R. – H.C.

 

Edgar Allan Poe

(1809-1849)

 

Alone

 

From childhood’s hour I have not been

As others were – I have not seen

As others saw – I could not bring

My passions from a common spring –

From the same source I have not taken

My sorrow – I could not awaken

My heart to joy at the same tone –

And all I lov’d – I lov’d alone –

Then – in my childhood – in the dawn

Of a most stormy life – was drawn

From ev’ry depth of good and ill

The mystery which binds me still –

From the torrent, or the fountain –

From the red cliff of the mountain –

From the sun that ’round me roll’d

In its autumn tint of gold –

From the lightning in the sky

As it pass’d me flying by –

From the thunder, and the storm –

And the cloud that took the form

(When the rest of Heaven was blue)

Of a demon in my view –

 

Sozinho

(Theophile-Emmanuel Duverger: pintor francês)

 

 

Desde criança nunca fui como outros foram

Nem meus olhos nunca viram o que outros viram,

Já que minhas paixões não têm a mesma origem,

Não vêm da mesma fonte as dores que me afligem.

Também o prazer era de outra natureza –

Tudo que amei ninguém amou, tenho certeza.

Lá – no despontar de um viver atormentado –,

Do âmago do bem e do mal foi arrancado

Este mistério que ainda me traz prisioneiro:

Da cascata e da torrente – do ocre do outeiro –

Do sol a desfilar sua outonal majestade

E da nuvem que a meus olhos tomou o perfil

De um demônio neste céu azul anil.

 

Folhetim, 28.07.85


Referências:

Em Inglês

POE, Edgar Allan. Alone. In: __________. The raven and others poems. Iustrated by Gahan Wilson. 1st ed. New York, NY: Berkley Publishing, feb. 1990. p. 32-33. (‘Classics Ilustrated’; n. 1)

Em Português

POE, Edgar Allan. Só. Tradução de João Moura Jr. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim: poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 66.

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