Configurado em versos livres e não rimados, em sete estrofes com distintos números de versos, o poema de hoje inicia-se com a descrição de um caminho ao longo de uma desolada paisagem, a levar a um hospital de isolamento (uma nota: WCW era médico de profissão): a vegetação acha-se afadigada pelo vento frio, ramas e folhas ressequidas, em meio a campos lamacentos e poças d’água.
Logo mais, o tom se altera para dar vez à primavera que haverá de suceder a tal estado invernal: da completa desolação, enquanto representação da morte, à gradual transformação da natureza, a prorromper no crescimento espontâneo de cada forma de vida, num cenário mais propício aos enfermos contaminantes que por ali se encontram.
J.A.R. – H.C.
William Carlos William
(1883-1963)
Spring and all
By the road to the contagious hospital
under the surge of the blue
mottled clouds driven from the
northeast – a cold wind. Beyond, the
waste of broad, muddy fields
brown with dried weeds, standing and fallen
patches of standing water
the scattering of tall trees
All along the road the reddish
purplish, forked, upstanding, twiggy
stuff of bushes and small trees
with dead, brown leaves under them
leafless vines –
Lifeless in appearance, sluggish
dazed spring approaches –
They enter the new world naked,
cold, uncertain of all
save that they enter. All about them
the cold, familiar wind –
Now the grass, tomorrow
the stiff curl of wildcarrot leaf
One by one objects are defined –
It quickens: clarity, outline of leaf
But now the stark dignity of
entrance – Still, the profound change
has come upon them: rooted, they
grip down and begin to awaken
In: “Spring and all” (1923)
Hospital ‘Espírito Santo’ no inverno
com vista para a Igreja St. Jacobi e Paróquia
(Carl A. H. F. Oesterley: pintor alemão)
Primavera e o mais
A caminho do hospital de isolamento
sob as vagas de nuvens mosqueadas
de azul que chegam impelidas
do nordeste – um vento frio. Além, o
ermo de extensos campos lamacentos
pardos de erva ressequida, em pé ou aparada
nesgas de água parada
dispersão de árvores altas
Ao longo do caminho todo, ruivos, roxos
bifurcados, erectos, ramalhudos
os arbustos e arvoredos com
folhas de vide, pardas, mortas a seu pé
sem vides –
Sem vida aparente, a vagarosa
e tonta primavera se aproxima –
Eles entram o novo mundo nus,
friorentos, inseguros de tudo,
salvo que entram. À sua volta sempre
o vento frio, já conhecido –
Hoje a relva, amanhã a tesa folha
espiralada da cenoura brava
Um por um os objetos se definem –
Mais depressa: luz, perfil de folha
Eis agora porém a hirta dignidade da
entrada – Entretanto, a mudança profunda
acometeu-os: arraigados, eles
aferram-se ao chão e começam a acordar
Em: “Primavera e o mais” (1923)
Referência:
WILLIAMS, William Carlos. Spring and
all / Primavera e o mais. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas.
Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia
das Letras, 1987. Em inglês: p. 52; em português: p. 53.
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