Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 21 de setembro de 2021

William Carlos Williams - Primavera e o mais

Configurado em versos livres e não rimados, em sete estrofes com distintos números de versos, o poema de hoje inicia-se com a descrição de um caminho ao longo de uma desolada paisagem, a levar a um hospital de isolamento (uma nota: WCW era médico de profissão): a vegetação acha-se afadigada pelo vento frio, ramas e folhas ressequidas, em meio a campos lamacentos e poças d’água.

Logo mais, o tom se altera para dar vez à primavera que haverá de suceder a tal estado invernal: da completa desolação, enquanto representação da morte, à gradual transformação da natureza, a prorromper no crescimento espontâneo de cada forma de vida, num cenário mais propício aos enfermos contaminantes que por ali se encontram.

J.A.R. – H.C.

 

William Carlos William

(1883-1963)

 

Spring and all

 

By the road to the contagious hospital

under the surge of the blue

mottled clouds driven from the

northeast – a cold wind. Beyond, the

waste of broad, muddy fields

brown with dried weeds, standing and fallen

 

patches of standing water

the scattering of tall trees

 

All along the road the reddish

purplish, forked, upstanding, twiggy

stuff of bushes and small trees

with dead, brown leaves under them

leafless vines –

 

Lifeless in appearance, sluggish

dazed spring approaches –

 

They enter the new world naked,

cold, uncertain of all

save that they enter. All about them

the cold, familiar wind –

 

Now the grass, tomorrow

the stiff curl of wildcarrot leaf

One by one objects are defined –

It quickens: clarity, outline of leaf

 

But now the stark dignity of

entrance – Still, the profound change

has come upon them: rooted, they

grip down and begin to awaken

 

In: “Spring and all” (1923)

 

Hospital ‘Espírito Santo’ no inverno

com vista para a Igreja St. Jacobi e Paróquia

(Carl A. H. F. Oesterley: pintor alemão)

 

Primavera e o mais

 

A caminho do hospital de isolamento

sob as vagas de nuvens mosqueadas

de azul que chegam impelidas

do nordeste – um vento frio. Além, o

ermo de extensos campos lamacentos

pardos de erva ressequida, em pé ou aparada

 

nesgas de água parada

dispersão de árvores altas

 

Ao longo do caminho todo, ruivos, roxos

bifurcados, erectos, ramalhudos

os arbustos e arvoredos com

folhas de vide, pardas, mortas a seu pé

sem vides –

 

Sem vida aparente, a vagarosa

e tonta primavera se aproxima –

 

Eles entram o novo mundo nus,

friorentos, inseguros de tudo,

salvo que entram. À sua volta sempre

o vento frio, já conhecido –

 

Hoje a relva, amanhã a tesa folha

espiralada da cenoura brava

Um por um os objetos se definem –

Mais depressa: luz, perfil de folha

 

Eis agora porém a hirta dignidade da

entrada – Entretanto, a mudança profunda

acometeu-os: arraigados, eles

aferram-se ao chão e começam a acordar

 

Em: “Primavera e o mais” (1923)


Referência:

WILLIAMS, William Carlos. Spring and all / Primavera e o mais. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 52; em português: p. 53.

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