Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Marianne Moore - Que são os anos?

A voz poética incita-nos a crescer mais alto, tal como um pássaro a cantar, para que, mesmo em nossa mortalidade, possamos alcançar alguma conexão com a eternidade: cantar, mesmo quando estejamos cativos nessa gaiola que é o corpo; compartilhar pensamentos e emoções, permitindo-nos vivenciar nossa humanidade num plano mais elevado e compensador.

Pode parecer paradoxal emparelhar a ideia de mortalidade à de eternidade. Mas por que deveríamos atribuir menor acento a esta em detrimento daquela, expondo-nos aos perigos do niilismo? “Carpe diem!”, exorta-nos Horácio (65 a.C. – 8 a.C.) a aproveitarmos a vida ao máximo, para que seus desafios e asperezas não absorvam a totalidade da existência – o que então poderia dar motivos aos que a veem como um “sem sentido”.

J.A.R. – H.C.

 

Marianne Moore

(1887-1972)

 

What are years?

 

What is our innocence,

what is our guilt? All are

naked, none is safe. And whence

is courage: the unanswered question,

the resolute doubt, –

dumbly calling, deafly listening – that

in misfortune, even death,

encourage others

and in its defeat, stirs

 

the soul to be strong? He

sees deep and is glad, who

accedes to mortality

and in his imprisonment rises

upon himself as

the sea in a chasm, struggling to be

free and unable to be,

in its surrendering

finds its continuing.

 

So he who strongly feels,

behaves. The very bird,

grwn taller as he sings, steels

his form straight up. Though he is captive,

his mighty singing

says, satisfaction is a lowly

thing, how pure a thing is joy.

This is mortality,

this is eternity.

 

A Caverna da Eternidade

(Luca Giordano: pintor italiano)

 

Que são os anos?

 

Que é nossa inocência,

qual a nossa culpa? Todos estão

despidos, ninguém está a salvo. E de onde

vem a coragem – a pergunta não respondida

a dúvida resoluta,

chamando em nudez, ouvindo surda que

no infortúnio, mesmo a morte

encoraja outros

e na derrota estimula

 

a alma para que seja forte? Vê

em profundidade e é feliz, aquele

que atinge a mortalidade

e em sua prisão se eleva

sobre si mesmo como

o mar em um despenhadeiro, lutando para ser

livre e incapaz de sê-lo,

e encontra em sua rendição

sua continuidade.

 

Assim também, aquele que sente fortemente

se comporta. O pássaro, mesmo,

crescido enquanto canta, erige em aço

sua forma ascendente. Embora cativo,

seu canto poderoso

diz que a satisfação é mesquinha

coisa, quanto é coisa pura a alegria.

Isto é mortalidade.

Isto é eternidade.


Referência:

MOORE, Marianne. What are years? / Que são os anos? Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 40; em português: p. 41.

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