A voz poética incita-nos a crescer mais alto, tal como um pássaro a cantar, para que, mesmo em nossa mortalidade, possamos alcançar alguma conexão com a eternidade: cantar, mesmo quando estejamos cativos nessa gaiola que é o corpo; compartilhar pensamentos e emoções, permitindo-nos vivenciar nossa humanidade num plano mais elevado e compensador.
Pode parecer paradoxal emparelhar a ideia de mortalidade à de eternidade. Mas por que deveríamos atribuir menor acento a esta em detrimento daquela, expondo-nos aos perigos do niilismo? “Carpe diem!”, exorta-nos Horácio (65 a.C. – 8 a.C.) a aproveitarmos a vida ao máximo, para que seus desafios e asperezas não absorvam a totalidade da existência – o que então poderia dar motivos aos que a veem como um “sem sentido”.
J.A.R. – H.C.
Marianne Moore
(1887-1972)
What are years?
What is our innocence,
what is our guilt? All are
naked, none is safe. And whence
is courage: the unanswered question,
the resolute doubt, –
dumbly calling, deafly listening – that
in misfortune, even death,
encourage others
and in its defeat, stirs
the soul to be strong? He
sees deep and is glad, who
accedes to mortality
and in his imprisonment rises
upon himself as
the sea in a chasm, struggling to be
free and unable to be,
in its surrendering
finds its continuing.
So he who strongly feels,
behaves. The very bird,
grwn taller as he sings, steels
his form straight up. Though he is captive,
his mighty singing
says, satisfaction is a lowly
thing, how pure a thing is joy.
This is mortality,
this is eternity.
A Caverna da Eternidade
(Luca Giordano: pintor italiano)
Que são os anos?
Que é nossa inocência,
qual a nossa culpa? Todos estão
despidos, ninguém está a salvo. E de onde
vem a coragem – a pergunta não respondida
a dúvida resoluta,
chamando em nudez, ouvindo surda que
no infortúnio, mesmo a morte
encoraja outros
e na derrota estimula
a alma para que seja forte? Vê
em profundidade e é feliz, aquele
que atinge a mortalidade
e em sua prisão se eleva
sobre si mesmo como
o mar em um despenhadeiro, lutando para ser
livre e incapaz de sê-lo,
e encontra em sua rendição
sua continuidade.
Assim também, aquele que sente fortemente
se comporta. O pássaro, mesmo,
crescido enquanto canta, erige em aço
sua forma ascendente. Embora cativo,
seu canto poderoso
diz que a satisfação é mesquinha
coisa, quanto é coisa pura a alegria.
Isto é mortalidade.
Isto é eternidade.
Referência:
MOORE, Marianne. What are years? / Que
são os anos? Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish;
FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes
femininas de língua inglesa. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p.
40; em português: p. 41.
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