Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 26 de setembro de 2021

Álvares de Azevedo - A Lagartixa

Metaforizando-se como uma lagartixa e a amada como o sol, o poeta discorre sobre os deleites de seu romântico amor em quatro estâncias de versos decassílabos, rimados apenas nas segundas e quartas linhas: o clarão dos olhos e o calor do corpo tornam-no inebriado como se houvesse se entregado aos prazeres de Baco, adormecendo ante o néctar dos melhores afetos de que é recebedor.

Inserto na segunda parte da “Lira dos Vinte Anos”, de 1853, o poema não deixa de causar alguma perplexidade, em especial por mencionar um animal – ou, talvez melhor, o vocábulo que lhe corresponde – raramente encontrável nos cânones da poesia romântica, ainda que uma de suas características mais marcantes seja exatamente o enaltecimento da relação homem x natureza.

J.A.R. – H.C.

 

Álvares de Azevedo

(1831-1852)

 

A Lagartixa

 

A lagartixa ao sol ardente vive,

E fazendo verão o corpo espicha:

O clarão dos teus olhos me dá vida,

Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

 

Amo-te como o vinho e como o sono,

Tu és meu copo e amoroso leito...

Mas teu néctar de amor jamais se esgota,

Travesseiro não há como teu peito.

 

Posso agora viver: para coroas

Não preciso no prado colher flores;

Engrinaldo melhor a minha fronte

Nas rosas mais gentis de teus amores.

 

Vale todo um harém a minha bela,

Em fazer-me ditoso ela capricha;

Vivo ao sol de seus olhos namorados,

Como ao sol de verão a lagartixa.

 

A Lagartixa Vermelha

(Ann-Marie Cheung: artista canadense)


Referência:

AZEVEDO, Álvares de. A lagartixa. In: BARBOSA, Frederico (Seleção e Organização). Cinco séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 185.

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