Muita calma nesta hora: é necessário chegar ao fim da leitura deste poema para se poder melhor concluir sobre o que vai em suas linhas. Afinal, o título que lhe foi atribuído pelo poeta muito deslinda as duas representações deduzíveis aos versos: uma, mais apressada, pelo avançar das inferências que o leitor atribui ao que lhe está sob a vista; outra, logo retificada pelo próprio autor, nas duas últimas estrofes.
Não sem motivos, a obra de arte que acompanha esta postagem apenas tangencialmente “diz” algo sobre o sentido último do poema. E tem-se aqui mais um derradeiro comento “ludibrioso”: o seu designativo quase se assemelha a “A Dupla Chama” (1993), obra de Octavio Paz que se debruça sobre as estreitas conexões entre amor e erotismo...
J.A.R. – H.C.
Rafael Alcides Pérez
(1933-2018)
La Doble Imagen
Ella está apenada pero ansiosa,
desnuda entre las sábanas.
Es la primera vez y tiembla.
Él es alto, joven
y te indica que abra aún más las piernas.
(iSe ve que tiene experiencia!)
Ella te obedece presta,
Arrebatada, y por momentos brama.
ÉI trabaja, se aferra;
ambos sudan, se extenúan
(isaben lo que están haciendo!)
Y por momentos, breves suspiro,
pequeñas glorias
que vuelan, que escapan,
y algunas lágrimas.
Es doloroso, pero él sigue,
ágil, experto, con todo lo que sabe.
Ella cierra los ojos
y todo su cuerpo es una pera,
una gran pera tendida en la cama.
Y él, diestro, infatigable,
icon qué amor entre sus piernas!
Pasan diez, veinte, treinta,
cuarenta y cinco minutos (iun tiempo horrible!)
Por fin se enciende el bombillito
allá afuera. (iHan pasado
diez mil anos!)
– iVarón! – anuncia la enfermera.
Entonces el padre enciende otro cigarro,
en tanto, allá dentro,
él le oprime el brazo,
ella cierra las piernas
y resplandece entre tas sábanas.
1964
En: “Agradecido como un perro” (1983)
HF4
(Jordan Eagles: artista norte-americano)
A Dupla Imagem
Ela sente mas está ansiosa,
nua entre lençóis.
É a primeira vez e treme.
Ele é alto, jovem
e lhe indica que abra ainda mais as pernas.
(Se vê que tem experiência!)
Ela lhe obedece rápida,
arrebatada, e por momentos brame.
Ele trabalha, se aferra;
ambos suam, se extenuam
(sabem o que estão fazendo!)
E por momentos, breves suspiros,
pequenas glórias
que voam, que escapam,
e algumas lágrimas.
É doloroso, mas ele continua,
ágil, experto, com tudo o que sabe.
Ela cerra os olhos
e todo seu corpo é uma pera,
uma grande pera estendida na cama.
E ele, destro, infatigável,
com que amor entre suas pernas!
Passam dez, vinte, trinta,
quarenta e cinco minutos (um tempo horrível!)
Afinal se acende a luz
lá fora. (Passaram-se
dez mil anos!)
– É menino! – anuncia a enfermeira.
Então o pai acende outro charuto,
enquanto, lá dentro,
ele lhe oprime o braço,
ela cerra as pernas
e resplandece entre lençóis.
1964
Em: “Agradecido como um cão” (1983)
Referência:
PÉREZ, Rafael Alcides. La doble imagen
/ A dupla imagem. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. In:
LEMUS, Virgilio López (Seleção, prefácio e notas). Vinte poetas cubanos do
século XX. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. Edição
bilíngue. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1995. Em espanhol: p. 272 e 274; em
português: p. 273 e 275.
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