Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Rafael Alcides Pérez - A Dupla Imagem

Muita calma nesta hora: é necessário chegar ao fim da leitura deste poema para se poder melhor concluir sobre o que vai em suas linhas. Afinal, o título que lhe foi atribuído pelo poeta muito deslinda as duas representações deduzíveis aos versos: uma, mais apressada, pelo avançar das inferências que o leitor atribui ao que lhe está sob a vista; outra, logo retificada pelo próprio autor, nas duas últimas estrofes.

Não sem motivos, a obra de arte que acompanha esta postagem apenas tangencialmente “diz” algo sobre o sentido último do poema. E tem-se aqui mais um derradeiro comento “ludibrioso”: o seu designativo quase se assemelha a “A Dupla Chama” (1993), obra de Octavio Paz que se debruça sobre as estreitas conexões entre amor e erotismo...

J.A.R. – H.C.

 

Rafael Alcides Pérez

(1933-2018)

 

La Doble Imagen

 

Ella está apenada pero ansiosa,

desnuda entre las sábanas.

Es la primera vez y tiembla.

Él es alto, joven

y te indica que abra aún más las piernas.

(iSe ve que tiene experiencia!)

Ella te obedece presta,

Arrebatada, y por momentos brama.

 

ÉI trabaja, se aferra;

ambos sudan, se extenúan

(isaben lo que están haciendo!)

Y por momentos, breves suspiro,

pequeñas glorias

que vuelan, que escapan,

y algunas lágrimas.

 

Es doloroso, pero él sigue,

ágil, experto, con todo lo que sabe.

Ella cierra los ojos

y todo su cuerpo es una pera,

una gran pera tendida en la cama.

Y él, diestro, infatigable,

icon qué amor entre sus piernas!

 

Pasan diez, veinte, treinta,

cuarenta y cinco minutos (iun tiempo horrible!)

Por fin se enciende el bombillito

allá afuera. (iHan pasado

diez mil anos!)

iVarón! – anuncia la enfermera.

 

Entonces el padre enciende otro cigarro,

en tanto, allá dentro,

él le oprime el brazo,

ella cierra las piernas

y resplandece entre tas sábanas.

 

1964

En: “Agradecido como un perro” (1983)

 

HF4

(Jordan Eagles: artista norte-americano)

 

A Dupla Imagem

 

Ela sente mas está ansiosa,

nua entre lençóis.

É a primeira vez e treme.

Ele é alto, jovem

e lhe indica que abra ainda mais as pernas.

(Se vê que tem experiência!)

Ela lhe obedece rápida,

arrebatada, e por momentos brame.

 

Ele trabalha, se aferra;

ambos suam, se extenuam

(sabem o que estão fazendo!)

E por momentos, breves suspiros,

pequenas glórias

que voam, que escapam,

e algumas lágrimas.

 

É doloroso, mas ele continua,

ágil, experto, com tudo o que sabe.

Ela cerra os olhos

e todo seu corpo é uma pera,

uma grande pera estendida na cama.

E ele, destro, infatigável,

com que amor entre suas pernas!

 

Passam dez, vinte, trinta,

quarenta e cinco minutos (um tempo horrível!)

Afinal se acende a luz

lá fora. (Passaram-se

dez mil anos!)          

– É menino! – anuncia a enfermeira.

 

Então o pai acende outro charuto,

enquanto, lá dentro,

ele lhe oprime o braço,

ela cerra as pernas

e resplandece entre lençóis.

 

1964

Em: “Agradecido como um cão” (1983)


Referência:

PÉREZ, Rafael Alcides. La doble imagen / A dupla imagem. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. In: LEMUS, Virgilio López (Seleção, prefácio e notas). Vinte poetas cubanos do século XX. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. Edição bilíngue. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1995. Em espanhol: p. 272 e 274; em português: p. 273 e 275.

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