Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Wladimir Cazé - História

Num convergir de imagens que reavivam cenas das melhores páginas de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a outras que evocam descrições análogas às do Gênesis bíblico, Cazé parece empreender busca àquele instante primordial em que as forças cósmicas engendram transmutações ecológicas, assentes em esboços contrapostos – formativos e ortotanásicos.

Nesse amplo ciclo em que a humana história radica, os mortos transfiguram-se em estrelas e os que ainda hão de nascer avançam aos estágios finais de gestação: um ânimo de sonho preenche a esfera terrestre, enquanto farelos surgem à margem de toda essa ininterrupta sintaxe – funesta por um lado, mas de restabelecimento por outro.

J.A.R. – H.C.

 

Wladimir Cazé

(n. 1976)

 

O espírito poderoso que fundirá os tempos

Espera, impaciente, nos átrios celestes.

Murilo Mendes

 

O deus fusor de mundos e tempos opera,

furioso, nos salões celestes.

O sol desembesta sobre a terra.

A história seca os mares. Seca o ar.

O solo é avesso a remanso.

A hora é árida.

O dia disputa a luz com a água.

Fogo maciço banha o planeta.

O vento colide contra os rios.

O céu é flácido.

Cacto inflamado.

Ondas.

As pedras progridem os que nasceram

há mil anos em estrelas.

Borboletas chegam à pele dos que

ainda vão nascer.

O sonho anima a esfera.

Farelos.

 

Onde está a água?

(Julie Drew: pintora norte-americana)


Referência:

CAZÉ, Wladimir. História. In: __________. Macromundo. Rio de Janeiro, RJ: Confraria do Vento, 2010. p. 9.

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