Num convergir de imagens que reavivam cenas das melhores páginas de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a outras que evocam descrições análogas às do Gênesis bíblico, Cazé parece empreender busca àquele instante primordial em que as forças cósmicas engendram transmutações ecológicas, assentes em esboços contrapostos – formativos e ortotanásicos.
Nesse amplo ciclo em que a humana história radica, os mortos transfiguram-se em estrelas e os que ainda hão de nascer avançam aos estágios finais de gestação: um ânimo de sonho preenche a esfera terrestre, enquanto farelos surgem à margem de toda essa ininterrupta sintaxe – funesta por um lado, mas de restabelecimento por outro.
J.A.R. – H.C.
Wladimir Cazé
(n. 1976)
O espírito poderoso que fundirá os
tempos
Espera, impaciente, nos átrios
celestes.
Murilo Mendes
O deus fusor de mundos e tempos opera,
furioso, nos salões celestes.
O sol desembesta sobre a terra.
A história seca os mares. Seca o ar.
O solo é avesso a remanso.
A hora é árida.
O dia disputa a luz com a água.
Fogo maciço banha o planeta.
O vento colide contra os rios.
O céu é flácido.
Cacto inflamado.
Ondas.
As pedras progridem os que nasceram
há mil anos em estrelas.
Borboletas chegam à pele dos que
ainda vão nascer.
O sonho anima a esfera.
Farelos.
Onde está a água?
(Julie Drew: pintora norte-americana)
Referência:
CAZÉ, Wladimir. História. In:
__________. Macromundo. Rio de Janeiro, RJ: Confraria do Vento, 2010. p.
9.
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