William Empson - Deixa para lá

Uma deliberação de se apelar a um profundo silêncio, ainda que insólito, a par das experiências acumuladas, das informações que nos alcançam, dos estímulos sensoriais a que estamos expostos – essa profusão de esporas que, muitas vezes, torna nossas vidas opressivas –, tudo porque não se deseja igualar-se, ao fim e ao cabo, a um demente num albergue para loucos.

Tal postura revela-se contraposta àquela outra, perfilhada por poetas, filósofos e pensadores das mais diversas tendências, que, sobre muito pouco – um tema excessivamente delimitado, um infinitésimo que quase equivaleria à irrelevância –, discorrem verborragicamente, sem perceber que suas ideias e pensamentos expressam, por vezes, linhas de força que se contradizem frontalmente.

Será que o recurso ao “argumentum ad temperantiam” não seria uma forma de solucionar a contenda?! Um poema, por exemplo, não como um caudal amazônico vertiginoso, tampouco feito uma partícula subatômica, senão com uma quantidade de versos que não destoe, nem por muito mais nem por muito menos, daquela empregada na mais frequente de todas as suas formas fixas: um soneto.

J.A.R. – H.C.

 

William Empson

(1906-1984)

 

Let it go

 

It is this deep blankness is the real thing strange.

The more things happen to you the more you can’t

Tell or remember even what they were.

 

The contradictions cover such a range.

The talk would talk and go so far aslant.

You don’t want madhouse and the whole thing there.

 

O silêncio entre eles

(Agneta Sofiadotter: pintora sueca)

 

Deixa para lá

 

É este profundo vazio o que é realmente estranho.

Quanto mais coisas nos sucedem, mais nos tornamos incapazes

De dizer ou de recordar até mesmo o que foram elas.

 

Cobrem uma tal amplitude as contradições.

O colóquio matraquearia, chegando tão longe de través.

E não se espera dar com um manicômio e tudo o mais lá.

Referência:

EMPSON, William. Let it go. In: PINTER, Harold; GODBERT, Geoffrey; ASTBURY, Anthony (Selecters). 100 poems by 100 poets:  an anthology. New York, NY: Grove Press, 1986. p. 59.

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