Frost põe-nos a pensar sobre os nossos próprios limites, cotejando-os aos limites da natureza: havendo plantado um pessegueiro em terras tão frias, suspeita o poeta que terá transgredido uma “lei” natural, já que, aparentemente, a árvore não evolui. Terá o ente lírico que aguardar a chegada da primavera para, então, deduzir uma postura terminante sobre o que fazer com ela.
Mas quais seriam os limites da criação e da inventividade humana? Há questões candentes relativas à bioética e ao uso de agentes químicos com finalidades bélicas, que fico a matutar sobre o perfil desmesurado de nossa ambição. Ademais, o poema desperta outros confrontos sobre linhas divisórias para quesitos como certo x errado, fato x opinião, doxa x episteme, verdade x mentira.
O que dizer das ‘fake news’? São elas tão condenáveis quanto as matérias tendenciosas publicadas pela grande mídia, eivadas de deliberadas omissões ou erros, como forma de manipular a opinião pública nem sempre atenta. Em suma: no que tange ao que ocorrer em Pindorama, nota-se que aqueles que têm a missão de nos representar – os políticos – e nos bem informar – a mídia – perderam as suas bússolas morais.
E não apenas eles: o descompromisso ético se estende, desafortunadamente ao Ministério Público e ao Judiciário, pelas transgressões ao Estado Democrático de Direito promovidas pelos procuradores da Lava Jato, em conluio com o magistrado de Curitiba (PR) – como restou demonstrado pelas conversas trazidas à ciência de todos, pelo ‘hacker’ Walter Delgatti Neto.
O país se deteriora a olhos vistos!
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
There Are Roughly Zones
We sit indoors and talk of the cold outside.
And every gust that gathers strength and heaves
Is a threat to the house. But the house has long
been tried.
We think of the tree. If it never again has leaves,
We’ll know, we say, that this was the night it died.
It is very far north, we admit, to have brought the
peach.
What comes over a man, is it soul or mind –
That to no limits and bounds he can stay confined?
You would say his ambition was to extend the reach
Clear to the Arctic of every living kind.
Why is his nature forever so hard to teach
That though there is no fixed line between wrong
and right,
There are roughly zones whose laws must be obeyed.
There is nothing much we can do for the tree tonight,
But we can’t help feeling more than a little
betrayed
That the northwest wind should rise to such a
height
Just when the cold went down so many below
The tree has no leaves and may never have them
again.
We must wait till some months hence in the spring
to know.
But if it is destined never again to grow,
It can blame this limitless trait in the hearts of
men.
Vale de Yosemite
(Albert Bierstadt: pintor germano-americano)
Há Zonas Selvagens
Sentamos dentro de casa conversando sobre o frio lá
fora.
E qualquer rajada que ganha força e impulso
É uma ameaça à casa. Mas ela há muito foi testada.
Pensamos na árvore. Se nunca mais tiver folhas
Vamos saber, então, que foi nesta noite que morreu.
Estamos muito ao norte para um pessegueiro!
O que é que domina o homem, é alma ou é mente –
Que a nenhum limite ou laço pode estar confinado?
Podia-se dizer que sua ambição é de expandir-se
Até ao Ártico de qualquer ser vivo.
Porque sua natureza é tão difícil de ensinar
Que embora não haja linhas fixas entre o certo e o
errado,
Há zonas mais selvagens cujas leis devem ser
obedecidas.
Não podemos fazer muito pela árvore esta noite,
Mas não podemos deixar de sentir-nos levemente
traídos
Pelo vento do noroeste que cresce a tal ponto
Quando o frio já é tanto, até mesmo demais.
A árvore não tem folhas, talvez jamais as tenha,
E p’ra saber ao certo devemos esperar até a
primavera.
Mas se estiver destinada a nunca mais crescer
A culpa certa está no coração dos homens.
Referências:
Em Inglês
FROST, Robert. There are Roughly Zones. In: __________. Complete poems of Robert Frost. Seventeenth Printing. New York, NY: Holt, Rinehart and Winston, 1964. p. 401.
Em Português
FROST, Robert. Há zonas selvagens.
Tradução de Marisa Murray. In: __________. Poemas escolhidos de Robert Frost.
Tradução de Marisa Murray. 1. ed. Rio de Janeiro, GB: Lidador, 1969. p. 103.
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