Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Philip Levine - A Reviravolta

O ente lírico medita sobre si mesmo, isolado numa cidade – metáfora preferencial para uma civilização em decadência –, onde vê rostos desconhecidos na rua e o inverno chegando aos poucos: sente como que certo despojamento e alheamento a sufragar um saldo de derrota perante as agruras da vida, ainda mais incisivo em razão de sua origem judaica.

Mas esse reconhecimento de suas próprias falhas revela maturidade e, por conseguinte, melhor compreensão das suas razões para existir, levando-o a fortalecer o espírito, dotando-o de resiliência e de capacidade para melhor aquilatar o que de mais importa, para poder levar uma vida com significativos propósitos.

J.A.R. – H.C.

 

Philip Levine

(1928-2015)

 

The Turning

 

Unknown faces in the street

And winter coming on. I

Stand in the last moments of

The city, no more a child,

Only a man, – one who has

Looked upon his own nakedness

Without shame, and in defeat

Has seen nothing to bless.

Touched once, like a plum, I turned

Rotten in the meat, or like

The plum blossom I never

Saw, hard at the edges, burned

At the first entrance of life,

And so endured, unreckoned,

Untaken, with nothing to give.

The first Jew was God; the second

Denied him; I am alive.

 

In: “On The Edge” (1963)

 

O homem atormentado

(Ron Oden: artista norte-americano)

 

A Reviravolta

 

Rostos desconhecidos na rua,

O inverno se aproxima.

Permaneço nos últimos instantes da

Cidade, não mais uma criança,

Apenas um homem, – que

Não se envergonhou

Ao olhar sua própria nudez

E nada viu para abençoar na derrota.

Tal qual uma ameixa, meu miolo

Ficou podre ao ser apalpado, ou

Como a flor da ameixeira que jamais

Vi, de bordas duras, incendiada

Na primeira entrada da vida,

Excluída, rejeitada, resistiu

Sem nada para oferecer.

O primeiro Judeu foi Deus; o segundo

O negou; eu estou vivo.

 

Em: “No Limite” (1963)


Referência:

LEVINE, Philip. The turning / A reviravolta. Tradução de Vinicius França da Silveira. In: SILVEIRA, Vinicius França. A poesia de Philip Levine: estudo seguido de pequena antologia traduzida e comentada. Campinas, SP: Unicamp – Instituto de Estudos da Linguagem, 2011. Em inglês: p. 94; em português: p. 95. (Dissertação de Mestrado). Disponível neste endereço. Acesso em: 21 mar. 2021.

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