O ente lírico medita sobre si mesmo, isolado numa cidade – metáfora preferencial para uma civilização em decadência –, onde vê rostos desconhecidos na rua e o inverno chegando aos poucos: sente como que certo despojamento e alheamento a sufragar um saldo de derrota perante as agruras da vida, ainda mais incisivo em razão de sua origem judaica.
Mas esse reconhecimento de suas próprias falhas revela maturidade e, por conseguinte, melhor compreensão das suas razões para existir, levando-o a fortalecer o espírito, dotando-o de resiliência e de capacidade para melhor aquilatar o que de mais importa, para poder levar uma vida com significativos propósitos.
J.A.R. – H.C.
Philip Levine
(1928-2015)
The Turning
Unknown faces in the street
And winter coming on. I
Stand in the last moments of
The city, no more a child,
Only a man, – one who has
Looked upon his own nakedness
Without shame, and in defeat
Has seen nothing to bless.
Touched once, like a plum, I turned
Rotten in the meat, or like
The plum blossom I never
Saw, hard at the edges, burned
At the first entrance of life,
And so endured, unreckoned,
Untaken, with nothing to give.
The first Jew was God; the second
Denied him; I am alive.
In: “On The Edge” (1963)
O homem atormentado
(Ron Oden: artista norte-americano)
A Reviravolta
Rostos desconhecidos na rua,
O inverno se aproxima.
Permaneço nos últimos instantes da
Cidade, não mais uma criança,
Apenas um homem, – que
Não se envergonhou
Ao olhar sua própria nudez
E nada viu para abençoar na derrota.
Tal qual uma ameixa, meu miolo
Ficou podre ao ser apalpado, ou
Como a flor da ameixeira que jamais
Vi, de bordas duras, incendiada
Na primeira entrada da vida,
Excluída, rejeitada, resistiu
Sem nada para oferecer.
O primeiro Judeu foi Deus; o segundo
O negou; eu estou vivo.
Em: “No Limite” (1963)
Referência:
LEVINE, Philip. The turning / A
reviravolta. Tradução de Vinicius França da Silveira. In: SILVEIRA, Vinicius
França. A poesia de Philip Levine: estudo seguido de pequena antologia
traduzida e comentada. Campinas, SP: Unicamp – Instituto de Estudos da
Linguagem, 2011. Em inglês: p. 94; em português: p. 95. (Dissertação de
Mestrado). Disponível neste endereço. Acesso em: 21 mar.
2021.
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