Algo por demais autocentrado – em sua síntese pungente e consciente sobre a frustração em melhor concatenar as associações relativas ao tema do poema – e derramado em expressões excessivamente sentimentais, este breve poema do primeiro Crane revela o quanto suas experiências estéticas pairam ainda num domínio predominantemente interior, longe, portanto, das cominações ou ciladas do mundo lá fora.
Enquanto “colmeia” do mundo, o coração do poeta é o elemento motor a facultar-lhe a interpretação, a permitir-lhe ser como um interlocutor ou um vate a erigir um engenho arquitetônico prismático, em camadas nominadas que, de todo modo, vindicam absorção mais diligente: pranto, clemência, amor, angústia e dor.
J.A.R. – H.C.
Hart Crane
(1899-1932)
The Hive
Up the chasm-walls of my bleeding heart
Humanity pecks, claws, sobs and climbs;
Up the inside, and over every part
Of the hive of the world that is my heart.
And of all the sowing, and all the tear-tendering,
And reaping, have mercy and love issued forth;
Mercy, white milk, and honey, gold love –
And I watch, and say, “These the anguish are worth.”
1917
Mulher com um jaleco amarelo
(August Macke: pintor alemão)
A Colmeia
Sobre escarpas do meu sangrado coração
A humanidade bica, arranha, soluça e escala;
Pelo centro, através de toda a extensão
Da colmeia do mundo que é meu coração.
De toda semente, de todo pendor ao pranto,
De toda ceifa, que emane clemência e amor.
Clemência, leite branco, e mel, amor dourado –
E eu assisto, e digo, “A angústia vale sua dor.”
1917
Referência:
CRANE, Hart. The hive / A colmeia.
Tradução de Anderson Mezzarano Lucarezi. In: LUCAREZI, Anderson Mezzarano. Poemas
de Hart Crane: uma tradução comentada. Versão corrigida. São Paulo, SP: USP
– Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2010. Em inglês e em
português: p. 101. (Dissertação de Mestrado). Disponível neste endereço. Acesso em: 18 mai.
2021.
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