Decerto a voz lírica defrontou-se, ao subir uma ladeira, com estudantes de filosofia que caminhavam ladeira abaixo, discutindo temas como a efetiva existência ou não da realidade, digo melhor, os conteúdos preferenciais de debate dos céticos, vale dizer, para quem as nossas mais diletas dúvidas são meras percepções ilusórias, chegando mesmo os mais radicais a duvidarem de suas próprias incertezas, rejeitando, assim, qualquer possibilidade de conhecimento real.
Aos antirrealistas opõem-se os realistas, os quais, no limite, albergam a tese de que até mesmo o inexistente existe: um dos debatedores sugere ao seu interlocutor que leia certos poetas, para dar conta de que o ponto de vista infenso ao que defende também se difunde no domínio da criação poética.
Num plano aparentemente mais neutro, há o enfoque equilibrado do falante, que, sem ser amargo, transita entre os debatedores e sente-se perplexo diante de suas posturas extremadas: diria ele que, às raias antípodas do solipsismo e do hiper-realismo, contrapõem-se determinadas asserções e demonstrações no âmbito da teoria epistêmica.
J.A.R. – H.C.
Vittorio Sereni
(1927-1983)
In salita
“Insomma l’esistenza non esiste”
(l’altro: “leggi certi poeti,
ti diranno
che inesistendo esiste”).
Scollinava quel buffo dialogo più giù
di un viottolo o due
alla volta del mare.
Fanno di questi discorsi
nell’ora che canicola di brutto
i ragazzi Cioè? – mi dicevo
scarpinando per quelle petraie –.
Proprio non ha senso
se non per certi trapassanti amari
quando si stampano per sempre in loro
interi pezzi di natura
gelandosi nelle pupille.
Ma ero
io il trapassante, ero io,
perplesso non propriamente amaro.
Caminho ladeira acima
(Alfred Sisley: pintor anglo-francês)
Ladeira acima
“Em suma, a existência não existe”
(o outro: “lê certos poetas,
eles te dirão que o
não existente existe”).
Aquele diálogo cômico se projetava
por uma viela ou duas,
ladeira abaixo, em direção ao mar.
Articulam tais discursos
na hora do calor mais fatigante,
os rapazes, quero dizer? – Indaguei-me
a caminhar por aquelas vias pedregosas –.
Simplesmente não faz sentido,
exceto para certos transeuntes amargos,
quando se gravam para sempre neles
pedaços inteiros da natureza,
congelando-se em suas pupilas.
Mas era
eu o transeunte, era eu,
perplexo e não exatamente amargo.
Referência:
SERENI, Vittorio. In salita. In:
__________. The selected poetry and prose of Vittorio Sereni. A
bilingual edition: Italian x English. Edited and translated by Peter Robinson
and Marcus Perryman. Introduction by Peter Robinson. Chicago, IL: University of
Chicago Press, 2006. p. 262 and 264.
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