Este excerto, de um dos mais famosos ensaios de Eliot, levou-me a associá-lo às ideias, com matiz freudiano, desenvolvidas no livro “The Anxiety of Influence: a theory of poetry” (1973), pelo crítico norte-americano Harold Bloom, para quem todo poeta empreende lutas contra os seus poetas ascendentes, buscando alcançar uma espécie de primazia no universo da criação poética.
Eliot nos fala em “roubo” – melhor seria empregar o termo “furto”, se a coisa não for o mais descarado plágio! (rs) – como uma forma de arte, pois que estamos cingidos por uma tradição e devemos dominá-la, sabendo-a bem de suas virtudes e carências, para então superá-la, transformando-a em um mescla indivisa, totalmente diferente da fonte de onde proveio.
Nada, portanto, de meramente imitar os predecessores ‘ad eternum’, senão ir mais fundo, pondo em marcha estéticas criativas que representem autonomia de voo para além do ninho primevo, riscando o ar com cifras perduráveis, dotadas do poder de reverberar sem atenuação, a denotar um aclive seguro na curva de aprendizado.
J.A.R. – H.C.
T. S. Eliot
(1888-1965)
Immature poets
imitate; mature poets steal; bad poets deface what they take, and good poets
make it into something better, or at least something different. The good poet
welds his theft into a whole of feeling which is unique, utterly different from
that from which it was torn; the bad poet throws it into something which has no
cohesion. A good poet will usually borrow from authors remote in time, or alien
in language, or diverse in interest. Chapman borrowed from Seneca; Shakespeare
and Webster from Montaigne. The two great followers of Shakespeare, Webster and
Tourneur, in their mature work do not borrow from him; he is too close to them
to be of use to them in this way. Massinger, as Mr. Cruickshank shows, borrows
from Shakespeare a good deal.
In: “Philip Massinger”
(1920)
As Musas Inquietantes
(Giorgio de Chirico: pintor italiano)
Poetas imaturos
imitam; poetas maduros roubam; os maus poetas desfiguram o que tomam, e os bons
poetas convertem-no em algo melhor, ou ao menos em algo diferente. O bom poeta
funde o seu roubo em um todo de sentimento que é único, totalmente
diferente daquele do qual foi arrancado; o mau poeta o lança em algo que não
tem coesão. Um bom poeta geralmente toma emprestado de autores remotos no
tempo, ou estranhos no idioma, ou diversos em interesses. Chapman pegou
emprestado de Sêneca; Shakespeare e Webster de Montaigne. Os dois grandes
seguidores de Shakespeare, Webster e Tourner, em suas obras maduras nada lhe
tomam emprestado; está próximo demais deles para lhes ser útil dessa maneira.
Massinger, como o revela o Sr. Cruickshank, muito toma emprestado de
Shakespeare.
Em: “Philip Massinger” (1920)
Referência:
ELIOT, T. S. Philip Massinger. In:
__________. Selected essays. 2nd ed. revised and enlarged. London, EN:
Faber & Faber Ltd., oct. 1934. p. 206-207.
Nenhum comentário:
Postar um comentário