Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 10 de maio de 2021

T. S. Eliot - Imitar, roubar, desfigurar ou transformar a poesia de outrem

Este excerto, de um dos mais famosos ensaios de Eliot, levou-me a associá-lo às ideias, com matiz freudiano, desenvolvidas no livro “The Anxiety of Influence: a theory of poetry” (1973), pelo crítico norte-americano Harold Bloom, para quem todo poeta empreende lutas contra os seus poetas ascendentes, buscando alcançar uma espécie de primazia no universo da criação poética.

Eliot nos fala em “roubo” – melhor seria empregar o termo “furto”, se a coisa não for o mais descarado plágio! (rs) – como uma forma de arte, pois que estamos cingidos por uma tradição e devemos dominá-la, sabendo-a bem de suas virtudes e carências, para então superá-la, transformando-a em um mescla indivisa, totalmente diferente da fonte de onde proveio.

Nada, portanto, de meramente imitar os predecessores ‘ad eternum’, senão ir mais fundo, pondo em marcha estéticas criativas que representem autonomia de voo para além do ninho primevo, riscando o ar com cifras perduráveis, dotadas do poder de reverberar sem atenuação, a denotar um aclive seguro na curva de aprendizado.

J.A.R. – H.C.

 

T. S. Eliot

(1888-1965)

 

Immature poets imitate; mature poets steal; bad poets deface what they take, and good poets make it into something better, or at least something different. The good poet welds his theft into a whole of feeling which is unique, utterly different from that from which it was torn; the bad poet throws it into something which has no cohesion. A good poet will usually borrow from authors remote in time, or alien in language, or diverse in interest. Chapman borrowed from Seneca; Shakespeare and Webster from Montaigne. The two great followers of Shakespeare, Webster and Tourneur, in their mature work do not borrow from him; he is too close to them to be of use to them in this way. Massinger, as Mr. Cruickshank shows, borrows from Shakespeare a good deal.

 

In: “Philip Massinger” (1920)

 

As Musas Inquietantes

(Giorgio de Chirico: pintor italiano)

 

Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam; os maus poetas desfiguram o que tomam, e os bons poetas convertem-no em algo melhor, ou ao menos em algo diferente. O bom poeta funde o seu roubo em um todo de sentimento que é único, totalmente diferente daquele do qual foi arrancado; o mau poeta o lança em algo que não tem coesão. Um bom poeta geralmente toma emprestado de autores remotos no tempo, ou estranhos no idioma, ou diversos em interesses. Chapman pegou emprestado de Sêneca; Shakespeare e Webster de Montaigne. Os dois grandes seguidores de Shakespeare, Webster e Tourner, em suas obras maduras nada lhe tomam emprestado; está próximo demais deles para lhes ser útil dessa maneira. Massinger, como o revela o Sr. Cruickshank, muito toma emprestado de Shakespeare.

 

Em: “Philip Massinger” (1920)


Referência:

ELIOT, T. S. Philip Massinger. In: __________. Selected essays. 2nd ed. revised and enlarged. London, EN: Faber & Faber Ltd., oct. 1934. p. 206-207.

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