A voz lírica dirige-se à sua interlocutora, para lhe alertar sobre a faceta acre e acidulada da terra mexicana que lhe vai nas veias, e com a qual haverá de contemporizar doravante: vinda de terra mais doce, cujos dias fluem em graça e risos, em paz que aos olhos do falante revela-se enganadora, deverá agora debater-se com essa paixão que muita dor prenuncia.
Aparentemente, em razão de o poema ter sido escrito no Rio de Janeiro (RJ) – onde Reyes atuou como embaixador ao longo da década de 1930 – o poeta dirige-se como “mensageiro” a uma companheira brasileira, a predizer-lhe um estado de despojamento, que poderá levá-la a arrepender-se do dia em que sua alma veio ao mundo.
J.A.R. – H.C.
Alfonso Reyes
(1889-1959)
La Corona
Te faltaba este dolor,
esta pasión te faltaba.
Hija del suelo más dulce,
vivías toda la gracia.
Tuve que venir de lejos
como la sazón amarga,
tuve que traer los ácidos
de mi tierra mexicana
para revolcar en lloro
la paz con que te engañabas.
Sólo sabías reír,
no te entristecía nada.
Te faltaba este dolor,
esta pasión te faltaba.
No culpes al mensajero
que te dio la voz de alarma.
No te arrepientas del día
en que ha nacido tu alma.
Sorbe la vida en tu copa
sabiendo que se te acaba;
y, cuando llegue la hora
sin alivio ni esperanza
y sientas el acicate
de ti misma espoleada,
cuando toda te despojes
porque ya toda te bastas,
no culpes al mensajero
que te dio la voz de alarma.
(Río, 18 de octubre, 1938)
En: “Romances Sordos” (1954)
Jovem Pensativa
(Camille Corot: pintor francês)
A Coroa
Faltava-te esta dor,
esta paixão te faltava.
Filha do solo mais doce,
vivias toda a graça.
Tive que vir de longe
como a estação amarga,
tive que trazer os ácidos
de minha terra mexicana
para chafurdar em lágrimas
a paz com que te enganavas.
Somente sabias rir,
nada te entristecia.
Faltava-se esta dor,
esta paixão te faltava.
Não culpes o mensageiro
que te deu a voz de alarme.
Não te arrependas do dia
em que nasceu tua alma.
Sorve a vida em teu copo
sabendo que está a esgotar-se;
e quando chegar a hora,
sem alívio nem esperança,
e sentires o acicate
de ti mesma esporeada,
quando toda despojada estiveres
porque já toda te bastas,
não culpes o mensageiro
que te deu a voz de alarme.
(Rio, 18 de outubro de 1938)
Em: “Romances Surdos” (1954)
Referência:
REYES, Alfonso. La corona. In: __________. Obras completas de Alfonso
Reyes: X - Constancia poética. 1. ed. 3. reimp. México, DF: Fondo de
Cultura Económica, 1996. p. 464. (Colección ‘Letras Mexicanas’)
Nenhum comentário:
Postar um comentário