Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de maio de 2021

Alfonso Reyes - A Coroa

A voz lírica dirige-se à sua interlocutora, para lhe alertar sobre a faceta acre e acidulada da terra mexicana que lhe vai nas veias, e com a qual haverá de contemporizar doravante: vinda de terra mais doce, cujos dias fluem em graça e risos, em paz que aos olhos do falante revela-se enganadora, deverá agora debater-se com essa paixão que muita dor prenuncia.

Aparentemente, em razão de o poema ter sido escrito no Rio de Janeiro (RJ) – onde Reyes atuou como embaixador ao longo da década de 1930 – o poeta dirige-se como “mensageiro” a uma companheira brasileira, a predizer-lhe um estado de despojamento, que poderá levá-la a arrepender-se do dia em que sua alma veio ao mundo.

J.A.R. – H.C.

 

Alfonso Reyes

(1889-1959)

 

La Corona

 

Te faltaba este dolor,

esta pasión te faltaba.

Hija del suelo más dulce,

vivías toda la gracia.

Tuve que venir de lejos

como la sazón amarga,

tuve que traer los ácidos

de mi tierra mexicana

para revolcar en lloro

la paz con que te engañabas.

Sólo sabías reír,

no te entristecía nada.

Te faltaba este dolor,

esta pasión te faltaba.

 

No culpes al mensajero

que te dio la voz de alarma.

No te arrepientas del día

en que ha nacido tu alma.

Sorbe la vida en tu copa

sabiendo que se te acaba;

y, cuando llegue la hora

sin alivio ni esperanza

y sientas el acicate

de ti misma espoleada,

cuando toda te despojes

porque ya toda te bastas,

no culpes al mensajero

que te dio la voz de alarma.

 

(Río, 18 de octubre, 1938)

 

En: “Romances Sordos” (1954)

 

Jovem Pensativa

(Camille Corot: pintor francês)

 

A Coroa

 

Faltava-te esta dor,

esta paixão te faltava.

Filha do solo mais doce,

vivias toda a graça.

Tive que vir de longe

como a estação amarga,

tive que trazer os ácidos

de minha terra mexicana

para chafurdar em lágrimas

a paz com que te enganavas.

Somente sabias rir,

nada te entristecia.

Faltava-se esta dor,

esta paixão te faltava.

 

Não culpes o mensageiro

que te deu a voz de alarme.

Não te arrependas do dia

em que nasceu tua alma.

Sorve a vida em teu copo

sabendo que está a esgotar-se;

e quando chegar a hora,

sem alívio nem esperança,

e sentires o acicate

de ti mesma esporeada,

quando toda despojada estiveres

porque já toda te bastas,

não culpes o mensageiro

que te deu a voz de alarme.

 

(Rio, 18 de outubro de 1938)

 

Em: “Romances Surdos” (1954)


Referência:

REYES, Alfonso. La corona. In: __________. Obras completas de Alfonso Reyes: X - Constancia poética. 1. ed. 3. reimp. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1996. p. 464. (Colección ‘Letras Mexicanas’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário