Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de maio de 2021

Herbert Read - Turistas num lugar sagrado

Numa perambulação de “turistas” fantasmagóricos a um “lugar sagrado” – a mais aparentar ser um vale pedregoso e pouco arejado – talvez, até mesmo uma espécie de necrópole –, o poeta invoca à virginal “Cecília” (Santa Cecília?), para que, com sua presença, silencie um sino troante que acabara de derrubar “as fortes defesas da idade e da inocência”.

Cecília, a repousar em sono eterno, transfigura-se agora em náiade, mais especificamente uma potâmide, com a missão – se, literalmente, náiade for – de cura e de poder oracular, ou, mais extensivamente, de conceder aos homens o natural talento para a poesia: em gratidão, o poeta leva-a a divisar as abelhas que, naquelas paragens, tornaram a revoar, a estenderem-lhe o mel como oferenda.

J.A.R. – H.C.

 

Herbert Read

(1893-1968)

 

Tourists in a sacred place

 

A pallid rout stepping like phantoms

beneath the arching boughs,

have come with angel hands and wretched voices

to the valley and this choir of perished stones.

 

Valid was my anguish – as though a turbulent dove

had scattered the leafy silence.

Now in airless vistas, dim and blind my limbs will loiter

while the senses stray to vast defeats.

 

A rocking bell

peals in a gray tower.

The sound has broken down the strong defenses

of age and innocence.

 

Cecily come with your virginal tremors,

Cecily still the bell.

Your tresses are wet from the rushing river,

a green weed clings like a vein on your breast.

 

Cecily, listen, the clangor is over

now only the burden of bees in the clover.

God and his angels have given you grace,

and stamped your mission on your naiad face. 

 

Muçulmanos nas Filipinas

(Abdulmari Asia Imao: artista filipino)

 

Turistas num lugar sagrado

 

Um pálido grupo, caminhando como fantasmas

sob os ramos arqueados,

chegou com mãos de anjo e péssimas vozes

ao vale e a este coro de pedras arruinadas.

 

Válida era minha angústia – como se uma pomba

turbulenta

houvesse dispersado o frondoso silêncio.

Agora em cenários sem ar, fuscos e cegos meus

membros vagarão

enquanto os sentidos se desviarem para vastas derrotas.

 

Um sino oscilante

repica numa torre cinzenta.

O som derrubou as fortes defesas

da idade e da inocência.

 

Cecília, vem com teus virginais tremores,

Cecília, silencia o sino.

Tuas tranças estão úmidas do rio impetuoso,

um mato verde agarra-se a teu peito, como veia.

 

Ouve, Cecília, agora que o repique já está findo,

as abelhas no trevo o seu refrão zumbindo.

Deus e seus anjos deram-te atração,

e em teu rosto de náiade gravaram-te a missão.


Referência:

READ, Herbert. Tourists in a sacred place / Turistas num lugar sagrado. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: CHAUCER, Geoffrey et al. Poetas da Inglaterra. Edição bilíngue. Tradução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos em colaboração com Paulo Vizioli. São Bernardo do Campo, SP: Secretaria da Cultura, Esporte e Turismo do Estado de São Paulo; Bandeirante S. A. Indústria Gráfica, dez. 1970. Em inglês: p. 318; em português: p. 319.

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