Di Prima, poetisa da ‘beat generation’, satiriza a marginalização das mulheres na comunidade literária novaiorquina e, por extensão, norte-americana: apesar do inegável talento, seu devotamento à poesia sofre contratempos, mesmo os mais triviais, como o de somente encontrar cadeiras duras na biblioteca que frequentava – certamente uma ironia à asserção de William Burroughs (1914-1997), de que para ser um grande poeta é preciso sentir-se confortável, sentado sozinho em uma cadeira.
A poetisa desafia com bom-humor os roteiros então vigentes da prática poética, empregando um vocabulário minimalista e conciso, às vezes ambivalente, com gírias incidentais, para demarcar o seu inconformismo com toda a indiferença e desapreço que lhe são dirigidos – contexto que a machuca em seu orgulho, em seu amor próprio, levando-a a entrar em estado de “ruminação”.
J.A.R. – H.C.
Diane di Prima
(1934-2020)
Three Laments
1
Alas
I believe
I might have become
a great writer
but
the chairs
in the library
were too hard
2
I have
the upper hand
but if I keep it
I’ll lose the circulation
in one arm
3
So here I am the coolest in New York
what dont swing I dont push.
In some Elysian field (1)
by a big tree
I chew my pride
like cud.
(1958)
Na biblioteca
(Édouard Vuillard: pintor francês)
Três Lamentos
1
Pobre de mim
acredito
que poderia haver-me tornado
uma grande escritora
mas
as cadeiras
da biblioteca
eram muito desconfortáveis
2
Tenho
a mão dominante
mas se assim a conservo
perderei a circulação
em um dos braços
3
Então eis-me aqui a mais incrível em Nova York
a não dar impulso ao que não balança.
Em algum campo Elísio
junto a uma grande árvore
rumino o meu orgulho
como vianda regurgitada.
(1958)
Nota:
(1) Na mitologia grega e romana, os
Campos Elíseos eram o local de descanso final das felizes almas de pessoas virtuosas.
(AXELROD; ROMAN; TRAVISANO, 2012, f.n. n. 1, p. 286)
Referência:
PRIMA, Diane di. Three laments. In:
AXELROD, Steven Gould; ROMAN, Camille; TRAVISANO, Thomas (Eds.). The new
anthology of american poetry. Vol. 3: Postmodernisms 1950-Present. New
Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 2012. p. 286.
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