Com proposições axiomáticas, para as quais se poderiam formular outras tantas em sentido diverso, com justificativas semelhantemente correlatas e aceitáveis, a poetisa avança de enunciados que formulam situações que seriam melhores que outras, para outras tramas que aparentam servir de fundamento para aqueles enunciados – depositando no discernimento do leitor o escrutínio de exemplos fáticos hábeis a confirmar as teses levantadas.
Por que seria “melhor” desfazer que tecer?! Parece-me que o “melhor” esteja, no caso, a equivaler-se a “mais fácil”, pois “construir” – um paralelo a “tecer” – é sempre mais dificultoso que “destruir” ou “demolir” – idem, a “desfazer”. Por outra, ainda: a poetisa fixa a precedência dos sentidos – mão, língua, olho – para que as coisas venham a ocorrer ou a existir. Logo se percebe que, levadas à apreciação de alguém que acolite teses contrárias, o porto a que se vai chegar poderá estar a quilômetros de distância de onde vai fundear a autora! (rs)
J.A.R. – H.C.
Orides Fontela
(1940-1998)
Axiomas
Sempre é melhor
saber
que não saber.
Sempre é melhor
sofrer
que não sofrer.
Sempre é melhor
desfazer
que tecer.
Sem mão
não acorda
a pedra
sem língua
não ascende
o canto
sem olho
não existe
o sol.
Vou levar Veneza comigo
(Alex Ghizea-Ciobanu: artista moldávio)
Referência:
FONTELA, Orides. Axiomas. In:
__________. Teia: poemas. Prefácio de Marilena Chauí. 2. ed. São Paulo,
SP: Geração Editorial, jun. 1996. p. 26-27.
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