Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de maio de 2021

Orides Fontela - Axiomas

Com proposições axiomáticas, para as quais se poderiam formular outras tantas em sentido diverso, com justificativas semelhantemente correlatas e aceitáveis, a poetisa avança de enunciados que formulam situações que seriam melhores que outras, para outras tramas que aparentam servir de fundamento para aqueles enunciados – depositando no discernimento do leitor o escrutínio de exemplos fáticos hábeis a confirmar as teses levantadas.

Por que seria “melhor” desfazer que tecer?! Parece-me que o “melhor” esteja, no caso, a equivaler-se a “mais fácil”, pois “construir” – um paralelo a “tecer” – é sempre mais dificultoso que “destruir” ou “demolir” – idem, a “desfazer”. Por outra, ainda: a poetisa fixa a precedência dos sentidos – mão, língua, olho – para que as coisas venham a ocorrer ou a existir. Logo se percebe que, levadas à apreciação de alguém que acolite teses contrárias, o porto a que se vai chegar poderá estar a quilômetros de distância de onde vai fundear a autora! (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Orides Fontela

(1940-1998)

 

Axiomas

 

Sempre é melhor

saber

que não saber.

 

Sempre é melhor

sofrer

que não sofrer.

 

Sempre é melhor

desfazer

que tecer.

 

Sem mão

não acorda

a pedra

 

sem língua

não ascende

o canto

 

sem olho

não existe

o sol.

 

Vou levar Veneza comigo

(Alex Ghizea-Ciobanu: artista moldávio)


Referência:

FONTELA, Orides. Axiomas. In: __________. Teia: poemas. Prefácio de Marilena Chauí. 2. ed. São Paulo, SP: Geração Editorial, jun. 1996. p. 26-27.

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