A julgar pelo título, os versos deste poema fazem alusão à presença dos padres jesuítas em terras de Pindorama colonial, a forma como lutavam, sob condições inóspitas, para sobreviver, praticamente apartados do mundo dito civilizado, expostos a surtos endêmicos, tudo para levar a sua fé aos gentios, num afã missionário com aspirações redentoras.
Despontaria como bastante natural associar-se a temática do poema às figuras dos padres José de Anchieta (1534-1597) – espanhol de nascimento – e Manuel da Nóbrega (1517-1570) – português –, figuras importantes nas fundações das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem assim nos encargos de catequese dos ameríndios, arroteamento dos colonos e construção de templos e seminários religiosos.
J.A.R. – H.C.
Josely Vianna Baptista
(n. 1957)
anjo da Cia. de Jesus
presume de pez
lavares de prata
zinabre na cruz
sublinha trechos
da Bíblia
com o sumo escuro
que os toros maceram
no monturo dos
brejos
ora e delira
vendo o surto
de urupês no farelo
dos lenhos, rubros
talhos a prumo
em vieiras carnudas,
febricitantes
cravos no sepulcro
dos valos
sete ferrolhos
na cela dos sentidos,
dorme descalço e nu
sobre a alfombra
de abrolhos
(tenebris ad lucem)
da terra do Brasil,
pródiga em ouro,
malária e minas
de ânimas
Anchieta
(Antônio Parreiras: pintor brasileiro)
Referência:
BAPTISTA, Josely Vianna. anjo da Cia.
de Jesus. In: __________. Roça barroca. São Paulo, SP: Cosac Naify,
2011. p. 103-104.
Boa tarde, Rodrigues!
ResponderExcluirEstava eu a procurar a poesia de Alice Ruiz e encontrei-a em seu interessante blog de poesias, coisa que adoro e persigo.
Gostaria de convidá-lo a conhecer meu Blog que é justamente sobre Poesias, mas narradas, tanto por mim como por qualquer amigo poeta ou amante da poesia.
Apareça por lá!
Prezada Beth,
ExcluirAgradeço por navegar pelas páginas do blog. Aproveitei para dispor o seu blog no rol dos "meus favoritos" e na condição de "seguidor".
O ato de declamar um poema também o é de fixá-lo na memória por um outro sentido que não o da mera visão, capturando-lhe o ritmo, as inflexões e a musicalidade das palavras.
Feliz em saber que ainda há muitas pessoas, como você, que apreciam a arte da poesia.
Um abraço,
João A. Rodrigues