Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Josely Vianna Baptista - anjo da Cia. de Jesus

A julgar pelo título, os versos deste poema fazem alusão à presença dos padres jesuítas em terras de Pindorama colonial, a forma como lutavam, sob condições inóspitas, para sobreviver, praticamente apartados do mundo dito civilizado, expostos a surtos endêmicos, tudo para levar a sua fé aos gentios, num afã missionário com aspirações redentoras.

Despontaria como bastante natural associar-se a temática do poema às figuras dos padres José de Anchieta (1534-1597) – espanhol de nascimento – e Manuel da Nóbrega (1517-1570) – português –, figuras importantes nas fundações das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem assim nos encargos de catequese dos ameríndios, arroteamento dos colonos e construção de templos e seminários religiosos.

J.A.R. – H.C.

 

Josely Vianna Baptista

(n. 1957)

 

anjo da Cia. de Jesus

 

presume de pez

lavares de prata

zinabre na cruz

 

sublinha trechos

da Bíblia

com o sumo escuro

que os toros maceram

no monturo dos

brejos

 

ora e delira

vendo o surto

de urupês no farelo

dos lenhos, rubros

talhos a prumo

em vieiras carnudas,

febricitantes

cravos no sepulcro

dos valos

 

sete ferrolhos

na cela dos sentidos,

dorme descalço e nu

sobre a alfombra

de abrolhos

(tenebris ad lucem)

da terra do Brasil,

pródiga em ouro,

malária e minas

de ânimas

 

Anchieta

(Antônio Parreiras: pintor brasileiro)


Referência:

BAPTISTA, Josely Vianna. anjo da Cia. de Jesus. In: __________. Roça barroca. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. p. 103-104.

2 comentários:

  1. Boa tarde, Rodrigues!
    Estava eu a procurar a poesia de Alice Ruiz e encontrei-a em seu interessante blog de poesias, coisa que adoro e persigo.
    Gostaria de convidá-lo a conhecer meu Blog que é justamente sobre Poesias, mas narradas, tanto por mim como por qualquer amigo poeta ou amante da poesia.
    Apareça por lá!

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    1. Prezada Beth,
      Agradeço por navegar pelas páginas do blog. Aproveitei para dispor o seu blog no rol dos "meus favoritos" e na condição de "seguidor".
      O ato de declamar um poema também o é de fixá-lo na memória por um outro sentido que não o da mera visão, capturando-lhe o ritmo, as inflexões e a musicalidade das palavras.
      Feliz em saber que ainda há muitas pessoas, como você, que apreciam a arte da poesia.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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