Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Victor Hugo - Os “Embelezamentos” de Paris

Decerto que o imortal francês se reporta, neste fragmento de poema, ao implacável projeto de reforma urbana levado a efeito, sobretudo, no centro de Paris – a antiga “Lutetia Parisiorum” romana –, ao longo da segunda metade do século XIX, pelo barão Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) – prefeito do Sena –, e por Napoleão III (1808-1873).

A reconstrução dotou a urbe de amplas avenidas e bulevares, praças e parques, outorgando-lhe ainda uma legislação a impor fachadas padronizadas ao longo das vias: todas essas linhas de ação aparecem, mais ou menos nitidamente, nos versos de Victor Hugo, conjuntamente a um rol de personagens – fictícios e reais – que deram vida e reputação a uma das cidades que, ainda hoje, é uma das mais visitadas por turistas de todo o mundo.

J.A.R. – H.C.

 

Victor Hugo

(1802-1885)

 

Les “Embellissements” de Paris

 

Quant à Paris, ton poing l’étreint. Grâce aux bâtisses,

Paris, le grand Paris des superbes justices

Qui dressait en août, en septembre, en juillet,

Son front où tout à coup une étoile brillait,

Ce Paris qui, semblable au fauve dans les jungles,

Allongeait ses faubourgs comme un lion ses ongles,

Ce Paris où Danton poussant dans le ciel noir

Ces grands chevaux ailés, Droit, Gloire, Honneur, Devoir,

A travers la tempête, à travers le prodige,

Passa comme un géant debout sur un quadrige,

Aujourd’hui ce Paris énorme est un éden

Charmant, plein de gourdins et tout constellé d’N;

La vieille hydre Lutèce est morte; plus de rues

Anarchiques, courant en liberté, bourrues,

Où la façade au choc du pignon se cabrant,

Le soir, dans un coin noir faisait rêver Rembrandt;

Plus de caprice; plus de carrefour méandre

Où Molière mêlait Géronte avec Léandre;

Alignement! tel est le mot d’ordre actuel.

Paris, percé par toi de part en part en duel,

Reçoit tout au travers du corps quinze ou vingt rues

Neuves, d’une caserne utilement accrues;

Boulevard, place, ayant pour cocarde ton nom,

Tout ce qu’on fait prévoit le boulet de canon;

Socrate moustachu, tu fais marcher Xantippe

Ferme et droit; l’idéal a maintenant pour type

Un beau sergent de ville étendu de son long.

Phidias n’est qu’un sot auprès du fil à plomb.

Que c’est beau! de Pantin on voit jusqu’à Grenelle!

Ce vieux Paris n’est plus qu’une rue éternelle

Qui s’étire, élégante et belle comme l’I,

En disant: Rivoli! Rivoli! Rivoli!

 

L’empire est un damier enfermé dans sa boîte.

Tout, hors la conscience, y suit la ligne droite.

 

Paris

(Svetlana e Sabir Gadghievs: artistas russos)

 

Os ‘Embelezamentos” de Paris

 

Quanto a Paris, teu punho a constringe. Graças às construções,

Paris, a grande Paris das soberbas justiças

Que se ergueram em agosto, em setembro, em julho,

Em cuja fronte subitamente brilhou uma estrela,

Esta Paris que, tal como uma fera nas selvas,

Estendeu os seus subúrbios como um leão as suas garras,

Esta Paris onde Danton impeliu pelo negro céu

Quatro grandes cavalos alados – Direito, Glória, Honra, Dever –

Através da tempestade, através do prodígio,

Passou como um gigante aprumado sobre uma quadriga,

Hoje em dia, esta Paris enorme é um charmoso

Éden, cheia de clavas e toda constelada de Ns;

A velha hidra Lutécia está morta; já não há ruas

Anárquicas, correndo livremente, irregulares,

Onde as fachadas aprumadas sob o efeito dos frontões,

Levavam Rembrandt a sonhar, à noite, em escuros recantos;

Não mais caprichos, não mais encruzilhadas sinuosas

Onde Molière vinculou Léandre a Géronte;

Alinhamento! tal é a atual palavra de ordem.

Paris, traspassada por ti de um lado a outro num duelo,

Recebe por todo corpo quinze ou vinte novas

Ruas, proveitosamente acrescidas de uma caserna;

Bulevares, praças, tendo por insígnia o teu nome,

Tudo o que se faz leva em conta os projéteis de canhão;

Sócrates de fartos bigodes, fazes Xantipa caminhar

Firme e ereta; o ideal agora tem por tipo

Um belo sargento citadino, esguio a toda altura.

Fídias não passa de um tolo junto ao fio de prumo.

Que encanto! De Pantin se pode ver toda a rota até Grenelle!

Esta velha Paris não é mais que uma rua eterna

Que se estende, elegante e bela, como um “I”,

A dizer: Rivoli! Rivoli! Rivoli!

 

O império é um tabuleiro de jogo encerrado em sua caixa.

Tudo, exceto a consciência, segue em linha reta.


Referência:

HUGO, Victor. Les “embellissements” de Paris. In: __________. Selected poems of Victor Hugo. A bilingual edition: French x English. Translated by E. H. and A. M. Blackmore. Chicago, IL: University of Chicago Press, 2001. p. 562 and 564.

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