Cada verso deste breve poema de Murilo rememora o visual de umas das célebres pinturas do mestre holandês, como “O copo de vinho”, “O geógrafo”, “Lição de música”, “Mulher de azul lendo uma carta” etc.: é a subsunção da pintura à arte poética, vale dizer, uma nobre forma de galardoar um prodígio que, com talento, gravou o seu nome na História da Arte.
Nunca é demais recordar que Vermeer (1632-1675), em conjunto com uma cintilante plêiade de denodados artistas, como Rembrandt (1606-1669), Van der Elst (1613-1670), Jan Lievens (1607-1674) e outros, tomaram parte naquilo que passou a se definir como a Idade de Ouro da Pintura Holandesa, a singularizar indelevelmente o cenário cultural do século XVII.
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
Vermeer de Delft
É a manhã no copo:
Tempo de decifrar o mapa
Com seus amarelos e azuis
De abrir as cortinas (o sol frio nasce
Nos ladrilhos silenciosos),
De ler uma carta perturbadora
Que veio pela galera da China:
Até que a lição do cravo
Através dos seus cristais
Restitui a inocência.
Retrato do artista em seu estúdio
(Johannes Vermeer: pintor holandês)
Referência:
MENDES, Murilo. Vermeer de Delft. In:
FIGUEIREDO, José Valle de (Compilador). Antologia da poesia brasileira.
Lisboa, PT: Editorial Verbo, s/d [197?]. p. 155. (Livros RTP; ‘Biblioteca
Básica Verbo’, nº 24)
Nenhum comentário:
Postar um comentário