Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Vicente Gerbasi - No fundo florestal do dia

À hora em que o sol se põe, o poeta mergulha num estado de espírito com o poder de filtrar pelos sentidos tudo o que lhe ocorre à volta, em meio à mais luxuriante natureza: visão, audição, tato, olfato e paladar estão despertos para as “folhas lúcidas” que se lhes oferecem como dádivas.

Evidencia-se, obviamente, uma experiência sinestésica “no fundo florestal do dia”, com o poder de enfeitiçar ou embevecer os “ossos agrestes” do falante, dando a sensação ao leitor de que penetra num bosque fantasioso e arquetípico, onde o insondável prepondera, ainda a distância do pleno conhecimento de si mesmo.

J.A.R. – H.C.

 

Vicente Gerbasi

(1913-1992)

 

En el fondo forestal del día

 

El acto simple de la araña que teje una estrella

en la penumbra,

el paso elástico del gato hacia la mariposa,

la mano que resbala por la espalda tibia del caballo,

el olor sideral de la flor del café,

el sabor azul de la vainilla,

me detienen en el fondo del día.

 

Hay un resplandor cóncavo de helechos,

una resonancia de insectos,

una presencia cambiante del agua en los rincones

pétreos.

 

Reconozco aquí mi edad hecha de sonidos silvestres,

de lumbre de orquídea,

de cálido espacio forestal,

donde el pájaro carpintero hace sonar el tiempo.

Aquí el atardecer inventa una roja pedrería,

una constelación de luciérnagas,

una caída de hojas lúcidas hacia los sentidos,

hacia el fondo del día,

donde se encantan mis huesos agrestes.

 

Tigre surpreendido numa tempestade tropical

(Henri Rousseau: pintor francês)

 

No fundo florestal do dia

 

O simples ato da aranha a tecer uma estrela na

penumbra,

o passo elástico do gato em direção à borboleta,

a mão que resvala pelo dorso tépido do cavalo,

o aroma sideral da flor do café,

o sabor azul da baunilha,

detêm-me no fundo do dia.

 

Há um resplendor côncavo de fetos,

uma ressonância de insetos,

uma presença mutante da água nos cantos pétreos.

 

Reconheço aqui minha idade feita de sons silvestres,

de luz de orquídea,

de cálido espaço florestal,

onde o pica-pau faz soar o tempo.

 

Aqui, o pôr do sol inventa uma vermelha pedraria,

uma constelação de pirilampos,

uma queda de folhas lúcidas em direção aos sentidos,

em direção ao fundo do dia,

onde são encantados os meus ossos agrestes.


Referência:

GERBASI, Vicente. En el fondo forestal del día. In: MIRANDA, Julio E. (Estudio y Selección). Antología histórica de la poesía venezolana del siglo XX: 1907-1996. Primera edición. San Juan, PR: Editorial de la Universidad de Puerto Rico, 2001. p. 311-312.

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