Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Guillaume Apollinaire - Inscrição que se encontra sobre seu túmulo

Estas duas quintilhas, que fazem parte de um poema maior – “Les Collines” (“As Colinas” –, inserto na obra “Calligrammes” (“Caligramas”), publicada por Apollinaire em 1918, serviram-lhe como epitáfio lavrado em sua tumba. A rigor, há uma terceira estrofe, também extraída ao mesmo poema, como se pode ratificar por meio da foto contida neste endereço. Diz ela: 

Habituez vous comme moi

A ces prodiges que j'annonce

A la bonté qui va régner

A la souffrance que j’endure

Et vous connaîtrez l'avenir
 

Acostumai-vos como eu

A estes prodígios que anuncio

À bondade que há de reinar

Ao sofrimento que suporto

E conhecereis o porvir

Vive agora o poeta num estado em que já não pode “pecar”, desconectado de todas as coisas naturais, a tocar, a sentir, a examinar e a ponderar o que ninguém jamais ninguém tocou, sentiu, examinou ou ponderou – mesmo a vida, esse imponderável “ensaio” –, destarte a expirar com um sorriso no rosto.

J.A.R. – H.C.

 

Guillaume Apollinaire

(1880-1918)

 

Inscription qui se trouve

sur le tombeau d’Apollinaire

 

Je me suis enfin détaché

De toutes choses naturelles

Je peux enfin mourir mais non pêcher

Et ce qu’on n’a jamais touché

Je l’ai touché je l’ai palpé

 

Et j’ai scruté tout ce que nul

Ne peut en rien imaginer

Et j’ai soupesé maintes fois

Même la vie impondérable

Je peux mourir en souriant

 

Lápides

(Jacob Lawrence: pintor norte-americano)

 

Inscrição que se encontra

sobre o seu túmulo

 

Eu finalmente me afastei

De tudo o que há de natural

Posso morrer mas não pecar

E o que ninguém jamais tocou

Não só toquei como apalpei

 

Já perscrutei o que ninguém

Nunca sequer imaginou

E sopesei vezes sem conta

Até a vida imponderável

Se vou morrer, morro sorrindo


Referência:

APOLLINAIRE, Guillaume. Inscription qui se trouve sur le tombeau d’Apollinaire / Inscrição que se encontra sobre o seu túmulo. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em francês: p. 210; em português: p. 211. (Coleção “Lazuli”)

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