Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 17 de abril de 2021

Mário Chamie - Lavra Lavra

Com uma sintaxe a tangenciar a iconoclastia, os versos lavrados por Chamie bem lembram a paisagem campestre e a sua costumeira fauna protagonista em salazes rituais de união – cabra, vaca, potro –, mal ciente de que, por ali, espreita uma serpente que torna a bucólica paz do sítio um arranjo protendido num instável equilíbrio.

Para mais, as intempéries, as ervas daninhas e os pássaros vorazes à lavoura intranquilizam o aldeão que, por sua vez, submete-se a uma “paz indormida”, a debilitar-lhe o ânimo. Afinal, quem disse que a vida no campo seria um passeio, ou melhor, pacata e letárgica?!...

J.A.R. – H.C.

 

Mário Chamie

(1933-2011)

 

Lavra Lavra

 

Cabra balindo, a nem pedrês

que posta em rocha exalta

menor cantar de bicho e tosca

no só cruzar o olhar só montanhês.

 

Vaca pastando, a nem fugaz

que calma em pasto amaina

mugir mover de rês e mansa

no só passear o olhar só contumaz.

 

Potro correndo, o não veloz

que solto em fuga escolta

correr cansar de fêmea e rosa

no só pairar o olhar só viraluz.

 

Cobra tinindo, a nem nutriz

que fixa ao salto enfeita

coral mexer de guizo e tesa

no só fincar o olhar só agudez.

 

– A flora viva, a nem restrita

que torna o arroz a safra o vento

movido estar de ser inquieto campo

no só perder a paz mais indormida.

 

A paz que ao homem (o só)

consome.

 

Cavalos puxando arado

(Edvard Munch: pintor norueguês)


Referência:

CHAMIE, Mário. Lavra lavra. In: __________. Lavra lavra: poemas práxis 1958-1961. São Paulo, SP: Massao Ohno, 1962. p. 15.

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