Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 6 de abril de 2021

Czeslaw Milosz - A condição poética

À procura de uma identidade sob princípios, com o poder de engendrar a criação de sua própria persona – ainda que esta, paradoxalmente, seja um estado denegatório do mesmo “eu” –, Milosz pretende nos mostrar que algo como o poema – ou melhor, a poesia – não apenas pode ser interpretado sob distintos enfoques, senão que também pode ser proposto de outra forma.

O autor polonês detém-se no jogo das possibilidades, na conexão do ser com o mundo e na apreensão desse mundo, da palavra e da linguagem. Ver, sentir e ouvir de todas as maneiras, mesmo as coisas mais prosaicas, como se estivéssemos sob a vertiginosa poética do heterônimo Álvaro de Campos, embevecidos a perscrutar “lugares, portos, paisagens e tombadilhos”, para, com ele, podermos repetir: “E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.”

J.A.R. – H.C.

 

Czeslaw Milosz
(1911-2004)
 

Stan poetycki

 

Jakby zamiast oczu wprawiono odwróconą lunetę, świat oddala się i wszystko, ludzie, drzewa, ulice, maleje ale nic a nic nie traci na wyrazistości, zgęszcza się.

 

Miałem dawniej takie chwile podczas pisania wierszy, więc znam dystans, bezinteresowną kontemplację, przybranie na siebie ja, które jest nie-ja, ale teraz jest tak ciągle i zapytuję siebie co to znaczy, czyżbym wszedł w trwały stan poetycki.

 

Rzeczy dawniej trudne teraz są łatwe, ale nie czuję silnej potrzeby przekazywania ich na piśmie.

 

Dopiero teraz jestem zdrów a byłem chory, ponieważ mój czas galopował i udręczał mnie strach przed tym co będzie.

 

W każdej minucie widowisko świata jest dla mnie na nowo zadziwiające i tak komiczne, że nie mogę zrozumieć jak mogła chcieć temu podołać literatura.

 

Czując cieleśnie, dotykalnie, każdą minutę, oswajam nieszczęście i nie proszę Boga żeby zechciał je odwrócić, bo dlaczego miałby odwrócić ode mnie jeżeli nie odwraca od innych?

 

Śniło mi się, że znalazłem się na wąskim progu nad głębią w której widać było poruszające się wielkie morskie ryby. Bałem się, że jeżeli będę patrzeć, spadnę. Więc odwróciłem się, chwyciłem się palcami chropowatości skalnej ściany i powoli posuwając się tyłem do morza wydostałem się na miejsce bezpieczne.

 

Byłem niecierpliwy i drażniło mnie tracenie czasu na głupstwa, do których zaliczałem sprzątanie i gotowanie. Teraz z uwagą kroję cebulę, wyciskam cytryny, przyrządzam różne gatunki sosów.

 

Berkeley, 1977 / In: “Hymn o perle” (1981)

 

A boa vida
(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)
 

A condição poética

 

Como se tivesse em vez de olhos binóculos ao contrário, o mundo se distancia e pessoas, árvores, ruas, tudo diminui, mas nada, nada perde a clareza, fica mais denso.

 

Já tive antes momentos assim, escrevendo poemas; conheço então a distância, a contemplação desinteressada, sei assumir um eu que é não-eu, mas agora é sempre assim e me pergunto o que significa isso, se entrei numa permanente condição poética.

 

As coisas difíceis antes, agora são fáceis, mas não sinto desejo forte de transmiti-las por escrito.

 

Só agora estou sadio, e era doente, porque o meu tempo galopava e afligia-me o medo do que viria.

 

A cada momento o espetáculo do mundo é para mim de novo surpreendente e tão cômico que não entendo como a literatura podia querer dominá-lo.

 

Sentindo fisicamente, ao alcance da mão, cada momento, amanso o sofrimento e não suplico a Deus que queira afastá-lo de mim: por que o afastaria de mim se não o afasta dos outros?

 

Sonhei que me encontrava numa estreita borda sobre o oceano onde se viam nadando enormes peixes marítimos. Tive medo que, se olhasse, cairia. Virei então, agarrei-me nas asperezas da parede rochosa, e movendo-me lentamente, de costas para o mar, cheguei a um lugar seguro.

 

Eu era impaciente e irritava-me a perda de tempo com coisas triviais incluindo entre elas a faxina e a preparação da comida. Agora corto com cuidado a cebola, espremo os limões, preparo vários tipos de molho.

 

Berkeley, 1977 / Em: “Hino à pérola” (1981)

 

Folhetim, 21.11.82


Referências:

Em Polonês

MILOSZ, Czeslaw. Stan poetycki. In: __________. Wiersze wszystkie. Kraków, PL: Znak, 2011. s. 716.

Em Português

MILOSZ, Czeslaw. A condição poética. Tradução de Ana Cristina Cesar e Grazyna Drabik. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim: poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 181-182.

Nenhum comentário:

Postar um comentário