A grama se personifica para declarar sua utilidade: para fazer esquecer, com o passar dos anos, das guerras mais infames em que se enredou o homem, levado pelo dissentimento em relação a questões tangíveis do seu quotidiano, para as quais, abrindo mão da ponderação e da concórdia, prefere lançar-se às armas, provocando mortes e destruição.
Os despojos estão soterrados sob a grama, mas a narrativa dos conflitos bélicos encontra-se registrada nos livros de História: as Guerras Napoleônicas, a Guerra Civil Americana, a Primeira Guerra Mundial e por aí vai, até a próxima contenda em que a humanidade venha a se perder, a vilipendiar o fundamento último de sua unidade...
J.A.R. – H.C.
Carl Sandburg
(1878-1967)
Grass
Pile the bodies high at Austerlitz and Waterloo.
Shovel them under and let me work –
I am the grass; I cover all.
And pile them high at Gettysburg
And pile them high at Ypres and Verdun.
Shovel them under and let me work.
Two years, ten years, and passengers ask the
conductor:
What place is this?
Where are we now?
I am the grass.
Let me work.
Grama alta com borboletas
(Vincent van Gogh: pintor holandês)
A Relva
Empilhem cadáveres em Austerlitz e Waterloo
Minem a terra por baixo e deixem-me trabalhar...
Eu sou a relva; eu cubro tudo.
Ergam montanhas de corpos em Gettysburg
Elevem aos céus altas pilhas em Ypres e Verdun.
Façam a terra ceder e deixem-me trabalhar.
Dois anos, dez anos, e o forasteiro pergunta ao
guia:
Que lugar é este?
Onde estamos agora?
Eu sou a relva.
Deixem-me trabalhar.
Referência:
SANDBURG, Carl. Grass / A relva.
Tradução de Oswaldino Marques. In: MARQUES, Oswaldino (Organização e Prólogo). O
livro de ouro da poesia dos Estados Unidos: coletânea de poemas
norte-americanos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro &
Tecnoprint, 1987. Em inglês: p. 124; em português: p. 125. (Coleção
‘Universidade de Bolso’)
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