Ao melhor estilo gótico, pelas imagens que estimula a quem o lê, este poema engendra ou suscita conjecturas de um mundo em plena desventura entrópica, no qual as “tempestades de ódio” superam em muito as mais condolentes aspirações de relações amistosas ou ternas entre os humanos, agentes que transitam por este planeta, farto de seus vestígios.
É uma luta aterradora entre os partidários de hostes com ambições antagônicas, para saber quem primeiro baixará ao eterno sono do Hades. Na noite que se avizinha, preces elevam o espírito ao oblívio e logo se desdobra o mapa a indicar “o caminho das pedras” – já tantas vezes trilhado e, por conseguinte, a pressupor menor esforço ao novel.
J.A.R. – H.C.
Douglas Messerli
(n. 1947)
Ground
for Joe and Laura
The world – former star
we inhabited as the content
of remains is also the object
of the game. This is the goal:
to obsess with ourselves
pursuing a key to unlock
the love audacity has awarded
our heats in those great storms
of hate. The three – the murderer’s black hair,
whoever lifts the stone this very evening,
and the great book filled with night –
must fight it out to see who will be
the first asleep. To stay together
within the same air is what we call
longing. – To part – is the obvious
reality of daily life. Each evening
prayers appear upon horizon
lifting our spirits into oblivion.
As the cat curls against the barren moon
the night unfolds the map: take the gravel path.
Solo & Pedras
(Arūnas Vasiliauskas: artista lituano)
Chão
para Joe e Laura
O mundo – prévia estrela
que habitávamos como o conteúdo
dos vestígios é também o tema
do jogo. Sua meta é:
chegarmos à obsessão
em busca da chave que destrave
o amor dado em meio às grandes
tormentas de ódio pela audácia
aos nossos corações. Os três – o cabelo negro
do assassino,
quem quer que neste fim de tarde erga a pedra,
e o livro de presença repleto de noite –
têm de se engalfinhar para ver qual
pega no sono primeiro. Ficar juntos
no mesmo ar é o que chamamos
saudade. – Separar-se – é a realidade
óbvia do dia a dia. Quando anoitece
surgem no horizonte preces
que elevam nosso espírito até o esquecimento.
Enquanto o gato se enrodilha contra a lua erma,
a noite desdobra o mapa: siga pelos caminhos
das pedras.
Referência:
MESSERLI, Douglas. Ground / Chão.
Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia
alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês:
p. 190; em português: p. 191. (Coleção “Lazuli”)
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