Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Douglas Messerli - Chão

Ao melhor estilo gótico, pelas imagens que estimula a quem o lê, este poema engendra ou suscita conjecturas de um mundo em plena desventura entrópica, no qual as “tempestades de ódio” superam em muito as mais condolentes aspirações de relações amistosas ou ternas entre os humanos, agentes que transitam por este planeta, farto de seus vestígios.

É uma luta aterradora entre os partidários de hostes com ambições antagônicas, para saber quem primeiro baixará ao eterno sono do Hades. Na noite que se avizinha, preces elevam o espírito ao oblívio e logo se desdobra o mapa a indicar “o caminho das pedras” – já tantas vezes trilhado e, por conseguinte, a pressupor menor esforço ao novel.

J.A.R. – H.C.

 

Douglas Messerli

(n. 1947)

 

Ground

 

for Joe and Laura

 

The world – former star

we inhabited as the content

of remains is also the object

of the game. This is the goal:

to obsess with ourselves

pursuing a key to unlock

the love audacity has awarded

our heats in those great storms

of hate. The three – the murderer’s black hair,

whoever lifts the stone this very evening,

and the great book filled with night –

must fight it out to see who will be

the first asleep. To stay together

within the same air is what we call

longing. – To part – is the obvious

reality of daily life. Each evening

prayers appear upon horizon

lifting our spirits into oblivion.

As the cat curls against the barren moon

the night unfolds the map: take the gravel path.

 

Solo & Pedras

(Arūnas Vasiliauskas: artista lituano)

 

Chão

 

para Joe e Laura

 

O mundo – prévia estrela

que habitávamos como o conteúdo

dos vestígios é também o tema

do jogo. Sua meta é:

chegarmos à obsessão

em busca da chave que destrave

o amor dado em meio às grandes

tormentas de ódio pela audácia

aos nossos corações. Os três – o cabelo negro

do assassino,

quem quer que neste fim de tarde erga a pedra,

e o livro de presença repleto de noite –

têm de se engalfinhar para ver qual

pega no sono primeiro. Ficar juntos

no mesmo ar é o que chamamos

saudade. – Separar-se – é a realidade

óbvia do dia a dia. Quando anoitece

surgem no horizonte preces

que elevam nosso espírito até o esquecimento.

Enquanto o gato se enrodilha contra a lua erma,

a noite desdobra o mapa: siga pelos caminhos

das pedras.


Referência:

MESSERLI, Douglas. Ground / Chão. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 190; em português: p. 191. (Coleção “Lazuli”)

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