Se não houver erro, Byron reporta-se à lua como se fosse o sol que brilha para os insones: segundo o poeta, é pelo brilho dessa “estrela melancólica” que somos capazes de notar a escuridão da noite em curso, quando, de fato, mais notória para cada um de nós é a noite que, a tudo anuviando, acaba por dar acento diferenciado à luz refletida pelo satélite.
A propósito, a mensagem principal do poema emerge exatamente dessa luz: o ocorrido no dia que se encerra, à luz do sol, resta superado pela luz lunar revérbera da noite sucedânea, intimamente absorvida pela voz lírica em uma entonação elegíaca, eis que, embora distinta, esplende distante, esmaecida e fria – como os transcorridos estados de felicidade, que vão se desvanecendo da memória.
J.A.R. – H.C.
Lord Byron
(1788-1824)
Por Théodore Géricault
Sun of the Sleepless
Sun of the Sleepless! melancholy star!
Whose tearful beam glows tremulously far,
That show’st the darkness thou canst not dispel,
How like art thou to Joy remembered well!
So gleams the past, the light of other days,
Which shines but warms not with its powerless rays:
A night-beam Sorrow watcheth to behold,
Distinct, but distant – clear – but, oh, how cold!
From: “Hebrew Melodies” (1815)
Amanhecer depois de uma noite insone
(Herold Boertjens: artista holandês)
Sol dos Insones
Sol dos insones! merencório astro!
Tu, cujo raio lacrimoso ao longe
Tremulamente brilha; tu, que as trevas
Nos mostras, cujo véu rasgar não podes,
Oh! como te pareces co’a ventura
Que profunda lembrança após deixara!
Assim fulge o passado, doutras eras
Luz, cujos raios frouxamente esplendem
Sem jamais aquecerem: luz noturna
Que em constante vigília a Dor contempla,
Luz distinta e distante ao mesmo tempo,
Límpida e clara e desmaiada e fria!
De: “Melodias Hebraicas” (1815)
Referências:
Em Inglês
BYRON, Lord. Sun of the sleepless. In: __________. The works of Lord Byron: in five volumes. Vol. IV. 2nd ed. Leipzig, DE: Bernhard Tauchnitz, 1866. p. 14. (‘Collection of British Authors’; vol. XI)
Em Português
BYRON, Lord. Sol dos insones. Tradução
de Antônio Franco da Costa Meireles. In: __________. As trevas e outros
poemas. Organização de Cid Vale Ferreira. Vários tradutores. São Paulo, SP:
Saraiva, 2007. p. 41. (‘Clássicos Saraiva’)
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