Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Carlos Pellicer - Movendo as Palavras

O ente lírico se “funde” ao mundo natural – flora, fauna e as formas minerais – para, dessa forma, furtivo por baixo das coisas, mover as palavras, fazendo-as rutilar em versos do mais puro quilate, como um beija-flor, literalmente, a “incendiar-se” num voo esfuziante: no frio subterrâneo, vai ele à procura do ardente diamante, pressagiado, mesmo que sob vendas, entre os seus próprios olhos.

O poeta aspira pelo persistente movimento orbicular dos girassóis, ou mesmo tudo o que se proponha à sombra de uma árvore, porque ele a tudo abarca, sendo fluxo copioso das águas de rios e lagos: movam-se as palavras, em browniana dinâmica, para, em arranjos inusitados, trazerem à tona o flanco misterioso do mundo!

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Pellicer

(1897-1977)

 

Moviendo las Palabras

 

Por todo lo fluvial y lo lacustre

que soy, puedo ser árbol

a cuya sombra se proponga todo.

Animal, vegetal y sombra ilustre

para el ladrón de joyas.

El girasol cuya atención redonda

obedece a los tornos que lo cercan.

El colibrí incendiado en un instante.

La abeja con el néctar de su vuelo,

y lo que no se vea en el vacío.

Yo, por debajo de las cosas,

moviendo las palabras.

Ahora estoy sin trabajo,

buscando quien me lleve al socavón

donde arde frío el diamante

y pueda yo vendarlo entre mis ojos.

Sí. Trabajar para ver lo no mirado.

 

(Noche del 16 de abril de 1973)

 

En: “Reincidencias” (1978)

 

Colibri em voo

(Michele Avanti: artista norte-americana)

 

Movendo as palavras

 

Por todo o fluvial e o lacustre

que sou, posso ser árvore

à sombra da qual tudo se proponha.

Animal, vegetal e ilustre sombra

para o ladrão de joias.

O girassol cuja atenção redonda

obedece ao giro dos que o cercam.

O colibri apressurado num instante.

A abelha com o néctar de seu voo,

e o que não se veja no vazio.

Eu, por baixo das coisas,

movendo as palavras.

Agora estou sem trabalho,

à procura de quem me leve à furna,

onde arde frio o diamante,

e possa eu vendá-lo entre meus olhos.

Sim. Trabalhar para ver o não visto.

 

(Noite de 16 de abril de 1973)

 

Em: “Reincidências” (1978)


Referência:

PELLICER, Carlos. Moviendo las palabras. In: __________. Obras: poesias. Edición de Luis Mario Schneider. 2. ed. 2. reimp. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 2013. p. 564. (Colección ‘Letras Mexicanas’)

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