Depois de haver conhecido a Fontana di
Trevi, em Roma (IT), e ali ter lançado, como muitos o fazem, uma moeda de cinco
centavos, a poetisa mineira lançou ao mundo os seus nomeados “desejos impronunciáveis”,
sob a convicção de que, o que quer que aconteça, se materializarão − mesmo a
despeito dos comentários alheios, a afirmar o poder de transformação do tempo
sobre a “bruta flor do querer”, na expressão empregada por Caetano Veloso.
Diria que sempre se mostra judicioso distinguir
à perfeição a diferença entre necessidades (‘tenho que’), desejos, objetivos ou
preferências (‘gostaria de’) e expectativas (as quais, muitas vezes, estão ao
largo de nosso completo poder de ação, senão no de terceiros). Assim, parece-me
que, pelo teor dos versos do poema, Camila quase transmudou à escala de necessidade
aquilo que, em seu íntimo e reservadamente, deseja com intenso fervor.
J.A.R. – H.C.
Como continuar a ser
a mesma pessoa
Como continuar a ser
a mesma pessoa
depois de ter
conhecido a Fontana di Trevi?
Você me dirá o quanto
eu sou tola
e que o conta-gotas
dos dias
nos transforma
permanentemente…
Eu estaria, com
gosto, de acordo
se não fosse a
pequena moeda
que, do fundo da
água,
cintila redonda meus
cinco centavos
de desejos
impronunciáveis
NICÁCIO, Camila. Como continuar a ser a mesma pessoa. In: CALCANHOTO, Adriana (Org.). É agora como nunca: antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p. 49.
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