Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 15 de novembro de 2020

Camila Nicácio - Como continuar a ser a mesma pessoa

Depois de haver conhecido a Fontana di Trevi, em Roma (IT), e ali ter lançado, como muitos o fazem, uma moeda de cinco centavos, a poetisa mineira lançou ao mundo os seus nomeados “desejos impronunciáveis”, sob a convicção de que, o que quer que aconteça, se materializarão − mesmo a despeito dos comentários alheios, a afirmar o poder de transformação do tempo sobre a “bruta flor do querer”, na expressão empregada por Caetano Veloso.

Diria que sempre se mostra judicioso distinguir à perfeição a diferença entre necessidades (‘tenho que’), desejos, objetivos ou preferências (‘gostaria de’) e expectativas (as quais, muitas vezes, estão ao largo de nosso completo poder de ação, senão no de terceiros). Assim, parece-me que, pelo teor dos versos do poema, Camila quase transmudou à escala de necessidade aquilo que, em seu íntimo e reservadamente, deseja com intenso fervor.

J.A.R. – H.C.

Camila Nicácio

(n. 1977)
 

Como continuar a ser a mesma pessoa

Como continuar a ser a mesma pessoa
depois de ter conhecido a Fontana di Trevi?
Você me dirá o quanto eu sou tola
e que o conta-gotas dos dias
nos transforma permanentemente…
Eu estaria, com gosto, de acordo
se não fosse a pequena moeda
que, do fundo da água,
cintila redonda meus cinco centavos
de desejos impronunciáveis

Fontana de Trevi
(Giovanni Paolo Pannini: artista italiano)

Referência:

NICÁCIO, Camila. Como continuar a ser a mesma pessoa. In: CALCANHOTO, Adriana (Org.). É agora como nunca: antologia
incompleta da poesia contemporânea brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p. 49.

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