Neste poema de Lossier, voltado a
discorrer sobre o futuro, o que se tem é a imponderabilidade de um tempo que rememora
instâncias de vida transatas, nos éons dos séculos, como se houvesse a pretensão
de se firmar as bases da teoria do eterno retorno, avigorando-nos a impressão
visual de uma tela com características surreais.
Veja-se que o autor é descendente de renomada
família suíça dedicada à relojoaria, ofício a tratar de instrumento que paira
desregulado nos versos do poema, não estando habilitado, por conseguinte, a bem
delimitar o sentido da seta temporal, num futuro onde ainda haveria algum propósito
lógico em se falar de profecias.
J.A.R. – H.C.
Au Futur
Une horloge déréglée,
le temps s’effondre,
Des terrasses
suspendues dans l’air.
Qui parle et se brise
en absence
Ô veilleur d’un exil?
II y aura vivant ce
qui mourait jadis
Au soufflé glacé des
étoiles,
Nos pas s’useront au
fond d’une douleur
Pesée d’en haut
inlassablement.
La fenêtre brillera
sur le sol
Encombré de siècles
qu’il faut traverser
Et les cloches
résonneront
Des souvenirs d’avant
la terre.
L’harmonie sublime se
dénouera
Dans le
tressaillement des mots oubliés,
Dépassées les
prophéties
Nous nous étendrons
plus las que les ombres.
No Futuro
Um relógio
desregulado, o tempo a colapsar,
Terraços suspensos no
ar.
Quem fala e se rompe
em ausência,
Ó sentinela de um
exílio?
Haverá vida no que
alguma vez morreu
Com o sopro gelado
das estrelas,
Nossos passos vão se
desgastar no fundo de uma dor
Incansavelmente do
alto a pesar.
A janela brilhará
sobre o chão
Saturado de séculos
por percorrer
E os sinos ressoarão
Memórias anteriores à
terra.
A sublime harmonia se
desfará
Na dispersão das
palavras olvidadas,
Para além das
profecias
Nos estiraremos mais
cansados que as sombras.
Referência:
LOSSIER, Jean-Georges. Au future. In: GENÊTS,
France-Line et al. Empreintes. Livre a été publié à l’occasion du
dixième anniversaire des Editions Empreintes. Lausanne, CH: Editions Empreintes,
1994. p. 103.
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