É aos 7 (sete) volumes da “À la
recherche du temps perdu” (“Em busca do tempo perdido”), de Proust (1871-1922)
que o autor catarinense alude, uma extensa paixão verbal para expor, com
minúcia de detalhes, o que se lhe passou – e aos seus – em vida, como que a ratificar
a máxima de Mallarmé (1842-1898): “Tout, au monde, existe pour aboutir à un
livre.” (“Tudo, no mundo, existe para terminar num livro.”) – em vários tomos,
no caso!
Quando a idade avança, borbulham os rastos
da memória, fazendo reverberar na mente os fatos e circunstâncias “idos e
vividos”, felizes ou desditosos: na forma de escrita, precipitamo-nos para uma
segunda morte, protraída no tempo por anos, décadas ou centúrias, em relação ao
passamento físico – e isso é tudo o que a literatura tem para nos oferecer!
J.A.R. – H.C.
Paixão de Proust
Que tenho ainda a
viver?
Nada mais, senão
alimentar
a voluntária paixão
da memória.
Faço minha própria
língua, fato
que nenhum erudito
critica.
Como organismo sou
todo escrita,
complacência de
sangue, certa
malícia de quem já
não sofre
senão por sua
elegante desdita.
E preciso alguma
prolífica
invenção maldita para
manter
a linguagem prevista:
nesta morte
por
escrito minha vida de artista.
Referência:
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