O autor chileno, ao tempo que descreve algumas técnicas que devem ser adotadas pelos poetas para levar à frente a denominada “arte poética”, oferece críticas sarcásticas a certas tendências líricas albergadas por autores latino-americanos, chegando a expô-los ao escárnio, quando se dizem tomados por visões arrebatadoras ou por uma “misteriosa inspiração”.
O que Lihn preconiza é que o poeta não se precipite em suas empreitadas, para que, amadurecidas, sejam elas vertidas em linhas precisamente distribuídas no poema, assim como se o vate estivesse movendo as peças num tabuleiro de xadrez – o que pressupõe o lado racional e metódico do ofício, em contraposição “à pobreza vocabular” do coração, ou por outra, à dificuldade de serem produzidos bons poemas lançando-se mão tão apenas de sentimentos.
J.A.R. – H.C.
Enrique Lihn
(1929-1988)
Si se ha de escribir correctamente
poesía
Si se ha de escribir correctamente poesía
no basta con sentirse desfallecer en el jardín
bajo el peso concertado del alma o lo que fuere
y del célebre crepúsculo o lo que fuere.
El corazón es pobre de vocabulario.
Su laberinto: un juego para atrasados mentales
en que da risa verlo moverse como un buey
un lector integral de novelas por entrega.
Desde el momento en que coge el violín
ni siquiera el Vals triste de Sibelius,
permanece en la sala que se llena de tango.
Salvo honrosas excepciones las poetisas uruguayas
todavía confunden la poesía con el baile
en una mórbida quinta de recreo,
o la confunden con el sexo o la confunden con la
muerte.
Si se ha de escribir correctamente poesía
en cualquier caso hay que tomarlo con calma.
Lo primero de todo: sentarse y madurar.
El odio prematuro a la literatura
puede ser de utilidad para no pasar en el ejército
por maricón, pero el mismo Rimbaud
que probó que la odiaba fue un ratón de biblioteca,
y esa náusea gloriosa le vino de roerla.
Se juega al ajedrez
con las palabras hasta para aullar.
Equilibrio inestable de la tinta y la sangre
que debes mantener de un verso a otro
so pena de romperte los papeles del alma.
Muerte, locura y sueño son otras tantas piezas
de marfil y de cuerno o lo que fuere;
lo importante es moverlas en el jardín a cuadros
de manera que el peón que baila con la reina
no le perdone el menor paso en falso.
Quienes insisten en llamar a las cosas por sus
nombres
como si fueran claras y sencillas
las llenan simplemente de nuevos ornamentos.
No las expresan, giran en torno al diccionario,
inutilizan más y más el lenguaje,
las llaman por sus nombres y ellas responden por
sus nombres
pero se nos desnudan en los parajes oscuros.
Salvo honrosas excepciones ya no hay grandes poetas
que no parezcan vendedores viajeros
y predican o actuán e instalan su negocio
en dios o en la taquilla de un teatro de provincia.
Ningún Misterio: trucos del lenguage.
Discursos, oraciones, juegos de sobremesa,
todas estas cositas por las que vamos tirando.
Si se ha de escribir correctamente poesía
no estaría de más bajar un poco el tono
sin adoptar por ello un silencio monolítico
ni decidirse por la murmuración.
Es un pez o algo así lo que esperamos pescar,
algo de vida, rápido, que se confunde con la sombra
y no la sombra misma ni el Leviatán entero.
Es algo que merezca recordarse
por alguna razón parecida a la nada
pero que no es la nada ni el Leviatán enterro,
ni exactamente un zapato ni una dentadura postiza.
Dança no Campo
(Pierre-Auguste
Renoir: pintor francês)
Se há de se escrever poesia
corretamente
Se há de se escrever poesia corretamente,
não basta sentir-se desfalecer no jardim,
sob o peso harmonioso da alma ou o que for
e do célebre crepúsculo ou o que for.
Pobre é o vocabulário do coração.
Seu labirinto: um jogo para retardados mentais,
risível ao se vê-lo mover-se como um boi,
um ávido leitor de romances folhetinescos.
Desde o momento em que ele pega o violino,
nem mesmo a Vals Triste de Sibelius
permanece na sala, que se enche de tango.
Salvo honrosas exceções, as poetisas uruguaias
ainda confundem a poesia com a dança
em uma mórbida quinta de recreio,
ou confundem-na com o sexo ou com a morte.
Se há de se escrever poesia corretamente,
em qualquer caso é preciso ir com calma.
Primeiro que tudo: sentar-se e amadurecer.
O ódio prematuro à literatura
pode ser útil para não se passar no exército
por maricas, ainda que o próprio Rimbaud,
que a odiava a toda prova, haja sido um rato de
biblioteca
e essa gloriosa náusea veio-lhe a roê-la.
Joga-se xadrez
com as palavras até mesmo para uivar.
Um equilíbrio instável entre tinta e sangue
que deve-se manter de um verso a outro
sob pena de rasgarem-se as páginas da alma.
A morte, a loucura e o sonho são outras tantas peças
de marfim e de corno ou o que for;
o importante é movê-las no jardim axadrezado,
de modo que o peão, a dançar com a rainha,
não lhe perdoe o menor passo em falso.
Aqueles que insistem em chamar as coisas por seus
nomes,
como se fossem claras e simples,
preenchem-nas tão apenas com novos ornamentos.
Não as expressam, recorrem ao dicionário,
tornam a linguagem cada vez mais inútil,
chamam-nas por seus nomes e elas respondem por seus
nomes,
embora se nos dispam em cantos escuros.
Salvo honrosas exceções, já não há grandes poetas
que não pareçam vendedores ambulantes
e preguem ou representem e abram seu negócio
em deus ou na bilheteria de um teatro de província.
Nenhum Mistério: apenas truques de linguagem.
Discursos, orações, jogos de tabuleiro,
todas essas pequenas coisas pelas quais vamos passando.
Se há de se escrever poesia corretamente,
não faria mal baixar um pouco o tom,
sem por isso adotar um silêncio monolítico
nem decidir-se por murmúrios.
É algo como um peixe o que esperamos pescar,
algo vivo, rápido, que se confunde com a sombra,
e não a própria sombra nem o Leviatã inteiro.
É algo que vale a pena lembrar,
por alguma razão que ao nada se parece,
mas que não é o nada nem o Leviatã inteiro,
nem exatamente um sapato, tampouco uma dentadura
postiça.
Referência:
LIHN, Enrique. Si se ha de escribir
correctamente poesía. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y
notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de
Cultura Económica, 1985. p. 375-376. (Colección ‘Tierra Firme’)
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