Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Cesare Pavese - Virá a morte e terá teus olhos

A obsessão pelo tema da morte permeia este poema do vate italiano, redigido alguns meses antes de Pavese se suicidar em Turim, a 26.8.1950: uma angústia existencial, uma tentação autodestruidora que, por igual, levou a cabo muitos outros artistas da palavra, como Alfonsina Storni (1892-1938), Virginia Woolf (1882-1941), Sylvia Plath (1932-1963), Alejandra Pizarnik (1936-1972), Ana Cristina Cesar (1952-1983), ou, ainda, David Foster Wallace (1962-2008).

A morte apossa-se dos olhos daquele(a) que dela se aproxima, silenciando-lhe os lábios, para então imergi-lo(a) num abismo imperscrutável: eis a ceifa da qual ninguém há de escapar, afinal, uma vez que vislumbremos o ocaso – quer pelo fluir já avançado dos anos quer em razão de renúncia deliberada à vida – nos arrabaldes do que somos, logo pertenceremos aos domínios da eternidade.

J.A.R. – H.C.

 

Cesare Pavese

(1908-1950)

 

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi

 

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi −

questa morte che ci accompagna

dal mattino alla sera, insonne,

sorda, come un vecchio rimorso

o un vizio assurdo. I tuoi occhi

saranno una vana parola,

un grido taciuto, un silenzio.

Così li vedi ogni mattina

quando su te sola ti pieghi

nello specchio. O cara speranza,

quel giorno sapremo anche noi

che sei la vita e sei il nulla.

 

Per tutti la morte ha uno sguardo.

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.

Sarà come smettere un vizio,

come vedere nello specchio

riemergere un viso morto,

come ascoltare un labbro chiuso.

Scenderemo nel gorgo muti.

 

O massacre de Quios

(Eugène Delacroix - pintor francês)

 

Virá a morte e terá teus olhos

 

Virá a morte e terá teus olhos –

essa morte que nos acompanha

desde a aurora até a noite, insone,

surda, como um velho remorso

ou um absurdo vício. Teus olhos

serão uma vã palavra,

um grito calado, um silêncio.

Assim os vês a cada manhã

quando sozinho te inclinas

diante do espelho. Oh, cara esperança,

naquele dia saberemos, também,

que és a vida e és o nada.

 

Para todos a morte tem um olhar.

Virá a morte e terá teus olhos.

Será como renunciar a um vício,

como ver no espelho

ressurgir um rosto morto,

como escutar um lábio fechado.

Desceremos mudos ao vórtice.

 

Referência:

PAVESE, Cesare. Vendrá la muerte y tendrá tus ojos. In: __________. Verrà la morte e avrà i tuoi occhi. Torino, IT: Einaudi, 1951. p. 29.


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