A obsessão pelo tema da morte permeia este poema do vate italiano, redigido alguns meses antes de Pavese se suicidar em Turim, a 26.8.1950: uma angústia existencial, uma tentação autodestruidora que, por igual, levou a cabo muitos outros artistas da palavra, como Alfonsina Storni (1892-1938), Virginia Woolf (1882-1941), Sylvia Plath (1932-1963), Alejandra Pizarnik (1936-1972), Ana Cristina Cesar (1952-1983), ou, ainda, David Foster Wallace (1962-2008).
A morte apossa-se dos olhos daquele(a) que dela se aproxima, silenciando-lhe os lábios, para então imergi-lo(a) num abismo imperscrutável: eis a ceifa da qual ninguém há de escapar, afinal, uma vez que vislumbremos o ocaso – quer pelo fluir já avançado dos anos quer em razão de renúncia deliberada à vida – nos arrabaldes do que somos, logo pertenceremos aos domínios da eternidade.
J.A.R. – H.C.
Cesare Pavese
(1908-1950)
Verrà la morte e avrà
i tuoi occhi
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi −
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Così li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.
Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.
O massacre de Quios
(Eugène Delacroix - pintor francês)
Virá a morte e terá
teus olhos
Virá a morte e terá teus olhos –
essa morte que nos acompanha
desde a aurora até a noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um absurdo vício. Teus olhos
serão uma vã palavra,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês a cada manhã
quando sozinho te inclinas
diante do espelho. Oh, cara esperança,
naquele dia saberemos, também,
que és a vida e és o nada.
Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá teus olhos.
Será como renunciar a um vício,
como ver no espelho
ressurgir um rosto morto,
como escutar um lábio fechado.
Desceremos mudos ao vórtice.
Referência:
PAVESE, Cesare. Vendrá
la muerte y tendrá tus ojos. In: __________. Verrà la morte e avrà i tuoi
occhi. Torino, IT: Einaudi, 1951. p. 29.
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