O poema retrata a situação de carência
em que vive, ainda hoje, grande parte do povo brasileiro, a viver em torrão com
uma das mais pernósticas distribuição de renda do mundo: apresenta-se como
figura prototípica do homem comum pátrio o roceiro, tipo que, à altura em que redigido
o poema, decerto, constituía a maior parcela da população – rural, e não
urbana, como agora.
A expressão “Banquete da vida nacional”
tem o fito de representar o lado que detém poder, renda e voz, ou ainda, o
extrato a que Gilberto Freyre denomina “Casa-Grande”, em oposição à “Senzala” –
mantida sob o jugo ostensivo da opressão, sem quaisquer apanágios minimante comparáveis
às garantias constitucionais de dignidade da pessoa humana. Até quando?!
J.A.R. – H.C.
(1884-1954)
No Banquete
Do alto dos seus
bordados, o general falou:
− Meio século,
senhores, a serviço da Pátria.
Falaram depois o
doutor e o magnata.
Outros mais falaram
no banquete da vida nacional.
Só o roceiro miúdo
não falou nada.
Porque não sabia
nada,
Porque estava
ausente,
perrengado,
indiferente,
curvado sobre o cabo
da enxada,
com o Brasil às
costas.
Referência:
LYNCE, Leo. No banquete. In: RIEDEL, D.;
LEMOS, C.; BARBIERI, I.; CASTRO, T. Literatura brasileira em curso. Rio
de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 103. (Coleção ‘Pesquisa’)
Nenhum comentário:
Postar um comentário