Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Leo Lynce - No Banquete

O poema retrata a situação de carência em que vive, ainda hoje, grande parte do povo brasileiro, a viver em torrão com uma das mais pernósticas distribuição de renda do mundo: apresenta-se como figura prototípica do homem comum pátrio o roceiro, tipo que, à altura em que redigido o poema, decerto, constituía a maior parcela da população – rural, e não urbana, como agora.

A expressão “Banquete da vida nacional” tem o fito de representar o lado que detém poder, renda e voz, ou ainda, o extrato a que Gilberto Freyre denomina “Casa-Grande”, em oposição à “Senzala” – mantida sob o jugo ostensivo da opressão, sem quaisquer apanágios minimante comparáveis às garantias constitucionais de dignidade da pessoa humana. Até quando?!

J.A.R. – H.C.

Leo Lynce
(1884-1954) 

No Banquete

Do alto dos seus bordados, o general falou:
− Meio século, senhores, a serviço da Pátria.
Falaram depois o doutor e o magnata.
Outros mais falaram no banquete da vida nacional.

Só o roceiro miúdo não falou nada.
Porque não sabia nada,
Porque estava ausente,
perrengado,
indiferente,
curvado sobre o cabo da enxada,
com o Brasil às costas.

Homem com Enxada
(Robert Gwathmey: pintor norte-americano) 


Referência:

LYNCE, Leo. No banquete. In: RIEDEL, D.; LEMOS, C.; BARBIERI, I.; CASTRO, T. Literatura brasileira em curso. Rio de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 103. (Coleção ‘Pesquisa’)
 

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