Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Sidney Keyes - Paul Klee

Keys, poeta inglês, redigiu este poema depois de visitar uma exposição de Paul Klee em Londres, tentando vasculhar a mente do pintor expressionista suíço  − de nacionalidade alemã −, através de suas obras, algo meio parecido com as elucubrações que a belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) empreende em “Memórias de Adriano”, de 1951, pondo na mente do Imperador pensamentos  que lhe poderiam ter invadido em determinados momentos de sua ascendência sobre Roma.

Não deixa de ser surpreendente a forma clarividente como o poeta acerca-se de um hipotético mecanismo de reação do pintor, enquanto “criança”, às leviandades levadas a efeito, em seus sonhos infantis, por gnomos ou duendes que lhe vêm sobressaltar o descanso: pode-se deduzir o brilho maldoso presente nos olhos de um petiz que se compraz em afugentar fantasmas! (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Sidney Keyes

(1922-1943)

 

Paul Klee

 

The short-faced goblins with their heavy feet

Trampled your dreams, their spatulate

Fingers have torn the tracery of your wisdom:

But childlike you would not cry out, transforming

Your enemies to little angry phantoms

In clarity of vision exorcised.

Until at last they conquered by attrition,

And draining the last dregs of love away,

They left you from the angular

Prison of primary fears no way but flight:

Yet never could invade your waterworld of spirit

Since half divining there among the dance

Of shadowed currents lurking ever

Their unguessed image, luminous with fear.

And so they stirred the shallows till the sky

Flew blue in shards and thought sank even deeper,

Where crouched your passion’s residue confined:

The evil centre of a child’s clear mind.

 

In: “The Cruel Solstice” (1944)

 

Autorretrato

(Paul Klee: pintor suíço)

 

Paul Klee

 

Os gnomos de face estreita com pés de chumbo

Amolgaram teus sonhos; seus dedos espatulados

Despedaçaram o rendilhado de tua sabedoria:

Mas como criança não choravas, convertendo

Teus inimigos em pequenos e zangados fantasmas,

Logo exorcizados sob uma alumbradora visão.

Até que, ao fim, subjugaram-te por desgaste,

E, ao drenarem-te os últimos resquícios de amor,

Para além do cárcere anguloso dos temores primitivos,

Deixaram-te sem outro caminho senão a fuga:

Contudo, jamais dominaram o pélago de teu espírito,

Uma vez que ali estás algo submerso em meio à dança

De correntes sombrosas sempre à espreita

De sua insuspeitada imagem, luminosa e pávida.

E então eles agitaram os baixios até que azul e em estilhas

Tornou-se o céu e o pensamento afundou-se ainda mais,

Até onde confinados os recônditos resíduos de tua paixão:

O centro radioso e maligno da mente de uma criança.

 

Em: “O Cruel Solstício” (1944)


Referência:

KEYES, Sidney. Paul Klee. In: __________. The cruel solstice. London, EN: Routledge, 1944. p. 20. Disponível neste endereço. Acesso em: 24 nov. 2020.

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