Keys, poeta inglês, redigiu este poema depois de visitar uma exposição de Paul Klee em Londres, tentando vasculhar a mente do pintor expressionista suíço − de nacionalidade alemã −, através de suas obras, algo meio parecido com as elucubrações que a belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) empreende em “Memórias de Adriano”, de 1951, pondo na mente do Imperador pensamentos que lhe poderiam ter invadido em determinados momentos de sua ascendência sobre Roma.
Não deixa de ser surpreendente a forma clarividente como o poeta acerca-se de um hipotético mecanismo de reação do pintor, enquanto “criança”, às leviandades levadas a efeito, em seus sonhos infantis, por gnomos ou duendes que lhe vêm sobressaltar o descanso: pode-se deduzir o brilho maldoso presente nos olhos de um petiz que se compraz em afugentar fantasmas! (rs)
J.A.R. – H.C.
Sidney Keyes
(1922-1943)
Paul Klee
The short-faced goblins with their heavy feet
Trampled your dreams, their spatulate
Fingers have torn the tracery of your wisdom:
But childlike you would not cry out, transforming
Your enemies to little angry phantoms
In clarity of vision exorcised.
Until at last they conquered by attrition,
And draining the last dregs of love away,
They left you from the angular
Prison of primary fears no way but flight:
Yet never could invade your waterworld of spirit
Since half divining there among the dance
Of shadowed currents lurking ever
Their unguessed image, luminous with fear.
And so they stirred the shallows till the sky
Flew blue in shards and thought sank even deeper,
Where crouched your passion’s residue confined:
The evil centre of a child’s clear mind.
In: “The Cruel Solstice” (1944)
Autorretrato
(Paul Klee: pintor suíço)
Paul Klee
Os gnomos de face estreita com pés de chumbo
Amolgaram teus sonhos; seus dedos espatulados
Despedaçaram o rendilhado de tua sabedoria:
Mas como criança não choravas, convertendo
Teus inimigos em pequenos e zangados fantasmas,
Logo exorcizados sob uma alumbradora visão.
Até que, ao fim, subjugaram-te por desgaste,
E, ao drenarem-te os últimos resquícios de amor,
Para além do cárcere anguloso dos temores primitivos,
Deixaram-te sem outro caminho senão a fuga:
Contudo, jamais dominaram o pélago de teu espírito,
Uma vez que ali estás algo submerso em meio à dança
De correntes sombrosas sempre à espreita
De sua insuspeitada imagem, luminosa e pávida.
E então eles agitaram os baixios até que azul e em estilhas
Tornou-se o céu e o pensamento afundou-se ainda
mais,
Até onde confinados os recônditos resíduos de tua
paixão:
O centro radioso e maligno da mente de uma criança.
Em: “O Cruel Solstício” (1944)
Referência:
KEYES, Sidney. Paul Klee. In: __________.
The cruel solstice. London, EN: Routledge, 1944. p. 20. Disponível neste endereço. Acesso em: 24 nov.
2020.
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