Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de novembro de 2020

Dylan Thomas - A força que impele a flor através do verde estopim

Mesmo diante de um processo em que, de um lado, se nos apresenta o júbilo do nascimento e, do outro, o desconsolo da morte, o poeta galês não deixa de acenar para o atributo contínuo de tal encadeamento, do qual se pode deduzir a sua perenidade: eis o ciclo da natureza, ou melhor, a forma como tudo a que ela diz respeito atravessa a seta diáfana do tempo. 

Thomas emprega interessantes locuções figurativas, matizadas com inflexões bíblicas, tornando o espinhoso tema da morte um pouco mais tolerável à luz da permanente dialética a opor beleza e vitalidade à decadência e ao envelhecimento, cumprindo a cada ser vivo plasmar a própria síntese de sua marcha de vida. 

J.A.R. – H.C.


Dylan Thomas
(1914-1953)
 

The force that through the green fuse drives the flower

 

The force that through the green fuse drives the flower

Drives my green age; that blasts the roots of trees

Is my destroyer.

And I am dumb to tell the crooked rose

My youth is bent by the same wintry fever.

 

The force that drives the water through the rocks

Drives my red blood; that dries the mouthing streams

Turns mine to wax.

And I am dumb to mouth unto my veins

Howat the mountain spring the same mouth sucks.

 

The hand that whirls the water in the pool

Stirs the quicksand; that ropes the blowing wind

Hauls my shroud sail.

And I am dumb to tell the hanging man

How of my clay is made the hangman’s lime.

 

The lips of time leech to the fountain head;

Love drips and gathers, but the fallen blood

Shall calm her sores.

And I am dumb to tell a weather’s wind

How time has ticked a heaven round the stars.

 

And I am dumb to tell the lover’s tomb

How at my sheet goes the same crooked worm.

 

Jardim
(Sergey Minaev: pintor russo)
 

A força que impele a flor através do verde estopim

 

A força que impele a flor através do verde estopim

Impede os meus verdes anos; a que arruína as raízes das árvores

É a que me aniquila.

E perco a voz para dizer à rosa que se arqueia

Como a minha juventude se curva sob a mesma febre invernal.

 

A força que impele a água através das rochas

Impele o meu rubro sangue; a que seca o sussurro das correntes

Transforma as minhas em cera.

E perco a voz para dizer às minhas veias

Como a mesma boca suga as fontes da montanha.

 

A mão que faz girar a água do pântano

Agita a areia movediça; a que estrangula o sopro do vento

Enfuna as velas de meu sudário.

E perco a voz para dizer ao enforcado

Como de minha argila é feita a cal do carrasco.

 

Sanguessugas, os lábios do tempo se colam à nascente;

O amor se avoluma e goteja, mas o sangue derramado

Acalmará suas feridas.

E perco a voz para dizer ao vento tempestuoso

Como as horas marcam um céu ao redor dos astros.

 

E perco a voz para dizer ao túmulo da amada

Como rastejam em meu lençol os mesmos vermes retorcidos.

 

Referências:

Em Inglês

THOMAS, Dylan. The force that through the green fuse drives the flower. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 9.

Em Português

THOMAS, Dylan. A força que impele a flor através do verde estopim. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 13-14.

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