Mesmo diante de um processo em que, de um lado, se nos apresenta o júbilo do nascimento e, do outro, o desconsolo da morte, o poeta galês não deixa de acenar para o atributo contínuo de tal encadeamento, do qual se pode deduzir a sua perenidade: eis o ciclo da natureza, ou melhor, a forma como tudo a que ela diz respeito atravessa a seta diáfana do tempo.
Thomas emprega interessantes locuções figurativas, matizadas com inflexões bíblicas, tornando o espinhoso tema da morte um pouco mais tolerável à luz da permanente dialética a opor beleza e vitalidade à decadência e ao envelhecimento, cumprindo a cada ser vivo plasmar a própria síntese de sua marcha de vida.
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
The force that
through the green fuse drives the flower
The force that through the green fuse drives the
flower
Drives my green age; that blasts the roots of trees
Is my destroyer.
And I am dumb to tell the crooked rose
My youth is bent by the same wintry fever.
The force that drives the water through the rocks
Drives my red blood; that dries the mouthing
streams
Turns mine to wax.
And I am dumb to mouth unto my veins
Howat the mountain spring the same mouth sucks.
The hand that whirls the water in the pool
Stirs the quicksand; that ropes the blowing wind
Hauls my shroud sail.
And I am dumb to tell the hanging man
How of my clay is made the hangman’s lime.
The lips of time leech to the fountain head;
Love drips and gathers, but the fallen blood
Shall calm her sores.
And I am dumb to tell a weather’s wind
How time has ticked a heaven round the stars.
And I am dumb to tell the lover’s tomb
How at my sheet goes the same crooked worm.
Jardim
(Sergey Minaev: pintor russo)
A força que impele a
flor através do verde estopim
A força que impele a flor através do verde estopim
Impede os meus verdes anos; a que arruína as raízes
das árvores
É a que me aniquila.
E perco a voz para dizer à rosa que se arqueia
Como a minha juventude se curva sob a mesma febre
invernal.
A força que impele a água através das rochas
Impele o meu rubro sangue; a que seca o sussurro
das correntes
Transforma as minhas em cera.
E perco a voz para dizer às minhas veias
Como a mesma boca suga as fontes da montanha.
A mão que faz girar a água do pântano
Agita a areia movediça; a que estrangula o sopro do
vento
Enfuna as velas de meu sudário.
E perco a voz para dizer ao enforcado
Como de minha argila é feita a cal do carrasco.
Sanguessugas, os lábios do tempo se colam à
nascente;
O amor se avoluma e goteja, mas o sangue derramado
Acalmará suas feridas.
E perco a voz para dizer ao vento tempestuoso
Como as horas marcam um céu ao redor dos astros.
E perco a voz para dizer ao túmulo da amada
Como rastejam em meu lençol os mesmos vermes
retorcidos.
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. The force that through the green fuse drives the flower. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 9.
Em Português
THOMAS, Dylan. A força que impele a
flor através do verde estopim. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas
reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph
Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José
Olympio, 1991. p. 13-14.
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