Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Emilio Adolfo Westphalen - Termos de Comparação

O autor peruano faz-nos ver que, enquanto sustentáculos da vontade obstinada, a fé, tanto quanto o desespero e a indiferença, podem preencher as necessidades daqueles que estão à procura de dar com o inaudito na experiência humana − a exemplo das sequentes perplexidades apostas nos versos que compõem o poema, aliás, nuançado de influxos surrealistas. 

Com efeito, Westphalen reconhece a necessidade que temos de transfigurar ao fascinante os episódios mundanos, “sacudidos, renegados ou desprezados” ao sabor das paixões. Nada obstante, qualquer que seja a escolha que se faça entre as opções oferecidas, poderemos alcançar um falso gáudio, pois não são nulas as chances de que encontremos “a guilhotina, o estrangulamento ou o nada”. Ou seja: não necessariamente a poesia nos levará ao firmamento do excelso, de forma perdurável ou reiterada! 

J.A.R. – H.C. 

 

Emilio Adolfo Westphalen
(1911-2001)
 

Términos de Comparación

 

¿Caminar por la vida como por encima del mar,

Sostenidos por la fe, la desesperanza o la indiferencia?

 

¿Posarse sobre ríos callados o tumultuosos,

Atraídos por una mirada o una sonrisa?

 

¿Abrazarse a cuerpos de fuego que se ahogan irremediablemente

En la propia corriente sanguínea, cálida o fría?

 

¿Penetrar en oscuras columnas de humo

Con la entereza de la flor bajo la guillotina?

 

¿Cubrirse las heridas con mantas de agua en ascuas,

O con una canción multiplicada al infinito?

 

¿Devorar espinas suaves como la caricia primera,

Irresistibles como el sollozo del moribundo?

 

¿Arriesgarse por la cuerda floja que sostiene

Luz y tiniebla, el leve temblor de lo que va creándose,

El ronco crepitar de lo extinto sin remedio?

 

¿Tratar de detener con lanzas de fuego

La huida del minuto, insaciable celoso,

Girando y perdiéndose al azar,

Caracola absorbida por la tempestad de arena?

 

¿Estrangularse con el primer grito de júbilo

y palpar nada esparcida por doquiera?

 

Todo podría servir de término de comparación,

Justificable nada más que como puro engaño.

 

Pero ¿qué sería recuperable si antes no fue

Sacudido, renegado, desdicho, trasfigurado?

 

Caminhando sobre água
(Joe Cousin: pintor mauriciano)
 

Termos de Comparação

 

Caminhar pela vida como por cima do mar.

Sustentados pela fé, pela desesperança ou pela indiferença?

 

Assentar-se sobre rios calmos ou tumultuosos,

Atraídos por um olhar ou um sorriso?

 

Abraçar-se a corpos de fogo que se afogam irremediavelmente

Na própria corrente sanguínea, quente ou fria?

 

Penetrar em colunas escuras de fumaça

Com a inteireza da flor sob a guilhotina?

 

Cobrir-se as feridas com mantas de água em brasas,

Ou com uma canção multiplicada ao infinito?

 

Devorar espinhos suaves como a carícia primeira,

Irresistíveis como o soluçar do moribundo?

 

Arriscar-se pela corda bamba que sustém

Luz e treva, o leve tremor do que se vai criando,

O rouco crepitar do que fatalmente se extingue?

 

Tratar de deter com lanças de fogo

A fuga do minuto, ávido insaciável,

A girar e a se perder ao acaso,

Concha absorvida pela tempestade de areia?

 

Estrangular-se com o primeiro grito de júbilo

E tatear o nada espargido por toda parte?

 

Tudo poderia servir como termo de comparação,

Justificável nada mais do que como puro engano.

 

Mas o que seria recuperável se antes não fora

Sacudido, renegado, desprezado, transfigurado?


Referência:

WESTPHALEN, Emilio Adolfo. Términos de comparación. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, ‎‎1985. p. 78-79. (Colección Tierra Firme)

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