O autor peruano faz-nos ver que, enquanto sustentáculos da vontade obstinada, a fé, tanto quanto o desespero e a indiferença, podem preencher as necessidades daqueles que estão à procura de dar com o inaudito na experiência humana − a exemplo das sequentes perplexidades apostas nos versos que compõem o poema, aliás, nuançado de influxos surrealistas.
Com efeito, Westphalen reconhece a necessidade que temos de transfigurar ao fascinante os episódios mundanos, “sacudidos, renegados ou desprezados” ao sabor das paixões. Nada obstante, qualquer que seja a escolha que se faça entre as opções oferecidas, poderemos alcançar um falso gáudio, pois não são nulas as chances de que encontremos “a guilhotina, o estrangulamento ou o nada”. Ou seja: não necessariamente a poesia nos levará ao firmamento do excelso, de forma perdurável ou reiterada!
J.A.R. – H.C.
Emilio Adolfo
Westphalen
(1911-2001)
Términos de Comparación
¿Caminar por la vida como por encima del mar,
Sostenidos por la fe, la desesperanza o la indiferencia?
¿Posarse sobre ríos callados o tumultuosos,
Atraídos por una mirada o una sonrisa?
¿Abrazarse a cuerpos de fuego que se ahogan
irremediablemente
En la propia corriente sanguínea, cálida o fría?
¿Penetrar en oscuras columnas de humo
Con la entereza de la flor bajo la guillotina?
¿Cubrirse las heridas con mantas de agua en ascuas,
O con una canción multiplicada al infinito?
¿Devorar espinas suaves como la caricia primera,
Irresistibles como el sollozo del moribundo?
¿Arriesgarse por la cuerda floja que sostiene
Luz y tiniebla, el leve temblor de lo que va
creándose,
El ronco crepitar de lo extinto sin remedio?
¿Tratar de detener con lanzas de fuego
La huida del minuto, insaciable celoso,
Girando y perdiéndose al azar,
Caracola absorbida por la tempestad de arena?
¿Estrangularse con el primer grito de júbilo
y palpar nada esparcida por doquiera?
Todo podría servir de término de comparación,
Justificable nada más que como puro engaño.
Pero ¿qué sería recuperable si antes no fue
Sacudido, renegado, desdicho, trasfigurado?
Caminhando sobre água
(Joe Cousin: pintor
mauriciano)
Termos de Comparação
Caminhar pela vida como por cima do mar.
Sustentados pela fé, pela desesperança ou pela
indiferença?
Assentar-se sobre rios calmos ou tumultuosos,
Atraídos por um olhar ou um sorriso?
Abraçar-se a corpos de fogo que se afogam
irremediavelmente
Na própria corrente sanguínea, quente ou fria?
Penetrar em colunas escuras de fumaça
Com a inteireza da flor sob a guilhotina?
Cobrir-se as feridas com mantas de água em brasas,
Ou com uma canção multiplicada ao infinito?
Devorar espinhos suaves como a carícia primeira,
Irresistíveis como o soluçar do moribundo?
Arriscar-se pela corda bamba que sustém
Luz e treva, o leve tremor do que se vai criando,
O rouco crepitar do que fatalmente se extingue?
Tratar de deter com lanças de fogo
A fuga do minuto, ávido insaciável,
A girar e a se perder ao acaso,
Concha absorvida pela tempestade de areia?
Estrangular-se com o primeiro grito de júbilo
E tatear o nada espargido por toda parte?
Tudo poderia servir como termo de comparação,
Justificável nada mais do que como puro engano.
Mas o que seria recuperável se antes não fora
Sacudido, renegado, desprezado, transfigurado?
Referência:
WESTPHALEN, Emilio Adolfo. Términos de
comparación. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección,
prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 78-79. (Colección Tierra Firme)
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